Existem duas coisas que não se deve fazer de madrugada: dirigir após beber e mandar mensagem. No primeiro caso, é bem verdade, não pode, nunca. Já no segundo, o ideal é ir dormir e esperar a vontade passar.
Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto, o todo-poderoso do PL, o partido que já havia, inclusive, anunciado a data de filiação do presidente (seria dia 22/11), trocaram mensagens na madrugada de domingo (14) e o que estava praticamente decidido, foi por água abaixo.
Nas palavras de Valdemar, “após intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo, decidimos de comum acordo pelo adiamento da anunciada cerimônia de filiação”, disse.
Traduzindo: “após ter me irritado, decidi mostrar quem manda no PL e, por ora, não vai ter filiação do presidente e ele que lute”.
Mas o problema do Presidente da República é pequeno se comparado ao problema que isso causou aos pré-candidatos a deputado e governador em Santa Catarina, por exemplo. Embora alguns já estivessem no PL, outros tantos já estavam fazendo as malas para aterrissar naquele que deve ser o novo ninho bolsonarista para 2022.
Entre os que são diretamente afetados com essa reviravolta estão o pré-candidato a governador, Jorginho Mello, o pré-candidato a reeleição a deputado federal, Daniel Freitas e o pré-candidato também à reeleição a deputado estadual, Jessé Lopes. Antes de cogitarem filiar-se ao PL, tanto Freitas quanto Lopes consideraram a possibilidade de irem para o PTB (aquele do Bob Jefferson). Só que após a divulgação de uma carta pouco gentil “endereçada” a Bolsonaro, o PTB passou ser uma dúvida a ambos.
Como ir para um partido que tinha no comando um político instável e sem nada a perder?
Foi aí que o PL virou uma escolha interessante. Daniel trabalha pela reeleição, mas, deverá ter alguma dificuldade pois não se manteve próximo de sua base. Esteve mais próximo de Bolsonaro (mas quem vota é a base).
Jessé tomou gosto pelo mundo da política e, entre as mudanças mais visíveis, está a postura diante dos percalços que a vida pública apresenta. Recentemente, nos stories do instagram, por exemplo, citou o arquivamento por unanimidade do inquérito contra o deputado Júlio Garcia (PSD) e disse: “não posso deixar de fazer justiça e mencionar que as acusações contra Julio Garcia foram arquivadas”.
Na semana que passou, também no instagram, o deputado fez uma enquete e perguntou aos seus seguidores para qual partido deveria ir: PL ou PTB. Não sei quantas pessoas deram sua opinião, porém, Jessé conta com 38.700 seguidores na referida rede social e o resultado da votação foi 97% PL e 3% PTB. Era a resposta que Lopes queria. É que ele tinha um “compromisso”, não oficial, claro, mas algo apalavrado com o projeto do PTB em Santa Catarina, então ficaria chato simplesmente “largar”. Seria uma espécie de:
“- Pode largar o PTB agora?
– Pode.
– É de bom tom?
– Não é”.
Seria preciso “construir” essa desistência e a ida para o PL.
Depois de eleito, Jessé Lopes permaneceu fiel à sua base e aos anseios de seus eleitores. Só que, para além do adiamento ou cancelamento da ida do presidente para o PL, Jessé enfrenta um outro problema no partido de Jorginho Mello: a base peelista, especialmente as mulheres, rejeitam o nome de Lopes. Com direito a vereadores e lideranças partidárias cogitando fazer uma carta ao diretório estadual rejeitando a entrada dele. O motivo? Consideram Jessé radical e não gostaram de ele ter recebido em seu gabinete o ex-marido da Maria da Penha (a mulher que ficou tetraplégica após ser alvejada pelas costas).
Aliás, pautas envolvendo assuntos relacionados às mulheres serão amplamente debatidas na próxima campanha. Dessa forma, qualquer vínculo com assuntos polêmicos dessa ordem, voltarão à baila.
Bom, se lá pelas bandas de Brasília o feriadão foi caliente e Bolsonaro acabou sendo desfiliado antes mesmo de se filiar, por aqui, as coisas já estão quentes e piorando.
Júlia Zanatta, pré-candidata a deputada federal, por enquanto, pelo PL, também acompanha de perto a movimentação de Lopes e Freitas e, mais atentamente, a de Jorginho Mello que disse numa entrevista recente que caberiam todos eles no PL.
Zanatta não descarta mudar de partido. Se isso ocorrer, Jorginho Mello perde um importante elo com a família Bolsonaro. A conta não será tão simples para o senador que, para evitar ficar careca, já começou a implantar cabelos.