Geovania de Sá: saiba como está repercutindo nos bastidores a troca de partido da deputada

10/09/2025

A iminente troca de partido da deputada federal Geovânia de Sá acendeu, nos bastidores, uma questão específica: como se daria a saída da parlamentar das “asas” de Clésio Salvaro, seu padrinho político. A dúvida faz sentido, já que, na política, afastamentos e aproximações nunca acontecem ao acaso.
Geovânia está em seu terceiro mandato como deputada federal e vive um momento importante de sua trajetória. “Cria” política do ex-prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (PSD), a parlamentar construiu sua trajetória com gestos frequentes de lealdade ao ex-prefeito, mas agora se vê diante do esvaziamento de seu único partido, o PSDB, sigla à qual ainda está oficialmente filiada. Entre os convites que recebeu, os mais tentadores vieram do PSD e do Republicanos.

A trajetória de Geovânia ao lado de Clésio

Geovânia iniciou sua vida pública convidada por Clésio para assumir a Secretaria de Assistência Social em Criciúma. Eleita vereadora em 2012, com 5.676 votos (5,27%), tornou-se a mais votada da história do município e, em seguida, assumiu a Secretaria de Saúde no ano seguinte. Pouco tempo depois, foi lançada como candidata a deputada federal, conquistando surpreendentes 52.757 votos. Só em Criciúma, fez 25.917 votos (27,97%), consolidando-se como a mais votada da cidade.

Repercussão nos bastidores

A leitura nos bastidores é a de que Geovânia se manteve leal ao seu mentor político mesmo em momentos em que ele a preteriu. Um dos exemplos citados pela fonte ouvida pela coluna remete a 2012, quando Clésio Salvaro foi cassado com base na Lei da Ficha Limpa, após ação movida ainda em 2008. Em conversas reservadas, a percepção é a de que, naquele momento,  ele poderia ter indicado sua aliada como sucessora natural na eleição suplementar de 2013, o que não ocorreu, embora, segundo a fonte, seu nome aparecesse nas pesquisas com mais de 30% dos votos. Na ocasião, Clésio escolheu o empresário Márcio Búrigo, e o resto da história você já conhece.


Já em 2024, sem poder ser ele próprio o candidato por ter exercido dois mandatos consecutivos, Clésio mais uma vez escolheu outros nomes para a sua sucessão. O primeiro foi Arleu da Silveira, que não pontuou bem nas pesquisas pré-eleitorais e acabou sendo substituído pelo partido. O nome escolhido para substituí-lo foi o de Vagner Espíndola, que foi eleito.

À época, ela era deputada suplente, na vaga deixada por Carmen Zanotto, que exercia a função de secretária de Estado da Saúde em Santa Catarina. Geovânia era um nome a ser considerado no desenho político para a disputa de 2024 em Criciúma, no entanto, os encaminhamentos foram outros. Ela também não teria participado de decisões estratégicas da disputa, como a possibilidade de indicar o vice da chapa.
Outro momento citado pela fonte ouvida pela coluna faz referência a quando Clésio Salvaro foi preso em decorrência da Operação Caronte, no ano passado. Geovânia foi vista em atos de apoio ao então prefeito e participou da festa de recepção feita a ele quando foi solto pela Justiça, considerando, portanto, que ela sempre se manteve fiel ao seu mentor.

O dilema partidário

Entre lideranças políticas, o dilema de Geovânia agora é outro. O PSD, partido escolhido por Clésio após sair do PSDB, fez convite à deputada. A análise feita por interlocutores é que, caso ingresse na sigla, Geovânia terá de dividir espaço com o deputado estadual, pré-candidato a federal e atual presidente da Alesc, Júlio Garcia, naturalmente apoiado pela prefeitura de Criciúma, além do deputado federal Ismael dos Santos, que também representa o eleitorado evangélico dentro do PSD. Ambos atuam em áreas onde a deputada tem forte inserção, com Júlio na região Sul e Ismael no segmento evangélico, o que tornaria mais difícil a projeção de Geovânia dentro do PSD, embora tenha afinidade com lideranças do partido.

O Republicanos, por sua vez, que também fez convite à parlamentar, apresenta-se como uma alternativa confortável, além de ser um partido alinhado ao segmento conservador e evangélico, perfil do eleitorado de Geovânia, avaliam pessoas próximas a ela.

Sem briga com Clésio, mas projeto eleitoral em primeiro plano

Interlocutores próximos relatam que, mesmo às vésperas da decisão e sob pressão, Geovânia reafirma constantemente sua amizade pessoal e sua gratidão política a Clésio Salvaro, com quem não pretende “brigar”. No entanto, seguindo os passos de Clésio, que também deixou o PSDB em busca de seu próprio projeto no PSD, ela deve definir seu futuro político nos próximos dias.
Nesse contexto, “bem medido e bem pesado”, a balança pende mais para o lado do Republicanos, que dá à pré-candidata a deputada federal maior segurança eleitoral, discurso alinhado ao seu perfil conservador e espaço consolidado no eleitorado evangélico.

Para pessoas do seu entorno, a decisão de Geovânia aponta para um amadurecimento político natural da parlamentar, que agora precisa fazer escolhas buscando consolidar seu capital político, sem depender do apoio de Clésio Salvaro. Caso ela de fato escolha o Republicanos e o ex-prefeito torça o nariz para a decisão, ele corre o risco de se isolar politicamente, já que se mantém adversário público de Jorginho Mello, que tem o apoio do Republicanos, possível destino da deputada. Tudo isso sem esquecer que, como ele próprio já mencionou publicamente, pretende voltar a disputar a prefeitura em 2028, o que pode provocar distanciamento entre ele, Júlio Garcia e Vagner Espíndola.


A decisão do rumo partidário de Geovânia deve ser anunciada nos próximos dias.