Que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) tem encontrado resistência para consolidar sua pré-candidatura ao Senado em terras catarinenses, você já sabe. Mas talvez o que você ainda não saiba são os detalhes da operação que fizeram com que o filho de Jair Bolsonaro fosse declarado dono de uma das vagas ao Senado da coligação de seu partido, o PL, em Santa Catarina.
Muito antes de vermos a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) questionar a imposição da pré-candidatura por Santa Catarina, o efeito da possível vinda do filho 02 do ex-presidente já provocava cara feia entre as lideranças no estado.

Relembre
No início de 2025, o projeto de reeleição do atual governador Jorginho Mello (PL) se desenhava da seguinte forma: a chapa teria o(a) vice indicado(a) pelo MDB, e as vagas ao Senado seriam divididas entre o PL e a federação Progressistas + União Brasil, lembrando que, na eleição do ano que vem, Santa Catarina vai eleger dois novos senadores.
Nessa configuração, os candidatos “naturais” às duas vagas seriam a deputada federal Carol de Toni (PL) e Esperidião Amin (PP), nome escolhido por Jair Bolsonaro, segundo revelou o presidente do PL nacional, Valdemar Costa Neto, em entrevista recente. Esse desenho político, porém, ficou abalado com a chegada de Carlos Bolsonaro à disputa em SC.
Mas uma pergunta ficou no ar:
Como se deu a indicação dele para uma das vagas?
Antes de Jair Bolsonaro tornar pública a indicação do filho para concorrer no estado catarinense, ele havia citado outros nomes que teriam seu apoio, como a própria Carol de Toni e a também deputada federal Júlia Zanatta. Em pouco tempo, a postura do ex-presidente mudou e ele passou a impor a candidatura do filho.
A questão passou, então, a ser tratada como uma “vontade” de Jair Bolsonaro, o que, para a bolha bolsonarista, não deveria ser questionado. Ocorre que a mudança de postura do pai de Carlos envolve razões familiares, segundo fontes ouvidas pela coluna.
Interlocutores apontaram que a decisão de indicar o filho ocorreu a partir de um pedido de Carlos Bolsonaro para morar em Santa Catarina e, em razão disso, concorrer à eleição do ano que vem no estado. Ou seja, a pré-candidatura de Carluxo foi consequência do pedido dele próprio ao pai, e não uma decisão inicial de Jair.
Uma das fontes revelou, ainda, que Carlos alegou “merecer” que Jair fizesse isso por ele e que o pai, debilitado em virtude dos conhecidos problemas de saúde, teria cedido ao pedido.
Essa informação, até então de bastidor, encontra eco na realidade, uma vez que “merecimento” foi o mesmo argumento usado por Eduardo Bolsonaro na live que fez em defesa do irmão. Segundo Eduardo, o irmão “foi vereador a vida inteira e agora merece essa chance”. A informação sobre o desejo de Carlos Bolsonaro de morar em Santa Catarina também foi citada na transmissão ao vivo, na última sexta-feira, nas redes sociais da deputada federal Júlia Zanatta (PL).
Não é novidade, aliás, entre aliados próximos do clã Bolsonaro, que a relação tanto de Eduardo quanto de Carlos com o pai não é das melhores. Recentemente, um vazamento de informações trouxe à tona uma troca de mensagens entre Eduardo e o ex-presidente, que mostra o deputado federal, autoexilado nos Estados Unidos, chamando Jair de “ingrato do caralho”. A reação do filho ocorreu por divergência de opinião entre os dois sobre a possibilidade de indicação de Tarcísio de Freitas como pré-candidato a presidente, teoricamente apoiado por Jair, o que Eduardo é contra.
Entre as principais lideranças nacionais do PL, é consenso que Eduardo e Carlos “não falam pelo pai”. Quem carrega essa responsabilidade, segundo as fontes ouvidas pela coluna, são a ex-primeira-dama Michelle e o atual senador Flávio Bolsonaro, tidos como figuras que agem no campo político e estratégico.
Voltemos ao Carluxo.
Há pouco mais de uma semana, Ana Campagnolo trouxe à superfície o desconforto generalizado entre lideranças de direita com relação à candidatura de Carlos Bolsonaro. Como resposta, viu a máquina de moer reputações, alimentada por uma ala bolsonarista, se voltar contra ela. Ainda assim, a parlamentar permaneceu irredutível na defesa de seus posicionamentos, com o apoio de uma verdadeira muralha horizontal representada por sua base eleitoral.
Rogério Marinho no evento do Rota 22
A presença do senador Rogério Marinho (PL-RN) no evento do PL, chamado Rota 22, em Blumenau, na última sexta-feira, não foi mero acaso de agendas. Ele veio em missão de paz e disse que as decisões serão tomadas sob pressão e temperatura partidária. O senador deu a entender que a distribuição das vagas ao Senado na chapa de Jorginho não está definida.
Chamou atenção
Foram dois os detalhes que chamaram atenção no evento do partido na sexta-feira. O primeiro foi o gesto de Jorginho para Ana Campagnolo que, ao apresentá-la ao público, rasgou elogios à parlamentar, num ato que simbolizou o quanto estão alinhados.
O segundo, e mais curioso, foi o fato de que, num evento do PL, na semana mais polêmica do ano para o partido e com o assunto fervendo, não houve nenhuma referência ao nome de Carlos Bolsonaro, nem mesmo de modo indireto. “Carlos Bolsonaro simplesmente não existia naquele evento, e isso é bastante sintomático”, confidenciou à coluna uma fonte.
Após a repercussão da polêmica em Santa Catarina, Flávio e Michelle Bolsonaro rapidamente entraram em campo para tentar acalmar os ânimos. Flávio publicou um vídeo em suas redes sociais sugerindo um “arrefecimento” da situação, enquanto Michelle “curtiu” publicações recentes no perfil de Campagnolo, o que abre margem para interpretações de que, entre as duas, não há qualquer animosidade ou, ao menos, há espaço para diálogo.
O movimento de ambos tem lógica, já que o movimento contrário à candidatura de Carlos, inaugurado no estado catarinense, pode estimular o questionamento sobre o tamanho e a relevância da liderança de Jair Bolsonaro em outros estados.
Rescaldo
A semana começou sob o rescaldo político do movimento iniciado por Ana Campagnolo. A orientação das principais lideranças do partido agora é para que os ânimos se acalmem. Uma coisa é certa: Santa Catarina sai desse debate maior e mais fortalecida, reafirmando sua fama de estado politicamente forte, mas não subserviente.
A coluna fez contato com a assessoria de Carlos Bolsonaro, que não respondeu às mensagens. Caso responda, sua versão será incluída neste texto.