Setembro de 2021. Essa foi a primeira vez que falei sobre a possibilidade de MDB e o governador Moisés estarem juntos na disputada das eleições de 2022. À época, me fazia sentido que Moisés assinasse sua ficha no MDB. Se você me acompanha por aqui com alguma frequência, sabe que não é do meu feitio gabar-me de “eu disse primeiro”. Mas, isso, eu disse primeiro. Lembro, inclusive, que a possibilidade, levantada por mim, foi até motivo de piada, afinal, “o MDB terá seu próprio candidato e não será Moisés”.
Passados os meses de outubro e novembro, a ideia que parecia não fazer sentido inicialmente, tomou forma e ganhou destaque político em todo o estado. Naquele momento o ano estava chegando ao fim e Carlos Moisés ainda estava sem partido, por isso, havia uma expectativa entre os politiqueiros de plantão que acompanhavam cada passo do governador que, a qualquer momento, poderia colocar o 15 no peito.
Nos meses de dezembro e janeiro foi quando essa expectativa chegou ao seu ponto alto, com Moisés dando sinais sutis de que iria pro MDB. Quem acompanha o perfil do governador já percebeu que ele gosta de se divertir “chutando pra um lado e correndo pro outro”. Aparecia com alguma liderança emedebista, no dia seguinte com alguém do Republicanos, Podemos e por aí vai.
A FILIAÇÃO
Numa viagem com pouco holofote, em março deste ano, Carlos Moisés da Silva foi à Brasília e voltou de lá de ficha assinada no Republicanos, do deputado Sérgio Motta. Esse momento marcou a saída de Eron Giordani (ex-Casa Civil) e deu início a uma fase nos bastidores políticos que colocou em xeque a reeleição de Moisés que, se estivesse no MDB, parecia mamão com açúcar.
O CANDIDATO DO MDB
No começo do ano, enquanto Moisés não se decidia se ia ou não para o maior partido de Santa Catarina, a figura de Antídio Lunelli, ex-prefeito de Jaraguá do Sul começou a ser amplamente divulgada pelo estado como o nome que o MDB apresentaria nas urnas em 2022.
Só que, para isso, precisaria passar pelas prévias do partido, marcadas para fevereiro. Na fria letra da lei, as prévias não aconteceram. Pelo menos, não, como deveriam. O que aconteceu foi a aclamação do nome de Lunelli como pré-candidato do partido já que não houve disputa. É que os outros nomes postos dentro da sigla para concorrer à vaga de candidato a governador retiraram suas pré-candidaturas justamente para que não houvesse a prévia como deveria. Esse argumento seria usado mais tarde para justificar que Lunelli não venceu as prévias, já que não houve disputa. Foi aclamado, mas não venceu a disputa, pois não houve.
Além disso, um outro fator começou a pesar e colocar a pré-candidatura do jaraguaense em dúvida: Lunelli não avançou nas pesquisas como o partido gostaria ou como deveria ser para ser o que chamamos no meio político de candidatura viável, que é quando um candidato tem possibilidade real de ser eleito, segundo pesquisas.
Quando esteve em Criciúma, no fim de janeiro, Lunelli cumpriu agenda, se reuniu com a militância, mas não convenceu. Naquele dia, lembro até hoje da repercussão do que escrevi. Eu disse: “saio da reunião que apresentou Antídio Lunelli como pré-candidato a governador pelo MDB com uma certeza: ele não será o candidato”.
Ingenuamente, não previ a forma como isso pudesse ser interpretado. Eu queria ter dito que: apensar de todos os esforços, não me parecia que ele conseguiria levar a candidatura até o fim, embora fosse uma boa figura e com certeza um excelente “produto” para um bom marqueteiro. Embora muita gente tenha levado para o lado pessoal, a minha percepção do cenário se resumia a parte estratégica da política.
A COROA
Na série The Crown, uma crônica da Netflix que reproduz, com licença poética, a vida da Rainha Elizabeth II, uma cena me chamou atenção. A monarca, num dos diálogos com um dos rebeldes integrantes da família real, disse que a “Coroa”, enquanto instituição, sempre estaria acima de qualquer anseio pessoal. Ou seja, não importa as suas vontades pessoais, as decisões serão tomadas sempre pensando primeiro na instituição Real.
Ao avaliar a situação em que se encontra o MDB, não seria muito fora de tom concluir que a decisão que o partido irá fazer prevalecer possa ser pensando na continuação do partido e, não, pensando nas pessoas em si.
Se Antídio não subiu nas pesquisas, qual seria o melhor caminho? Arriscar ficar de fora do governo ou tentar fazer parte do alto comando do estado? Manter a candidatura de Lunelli e, caso fosse derrotado nas urnas, ser oposição por pelo menos quatro anos ou, ceder e participar da eleição sendo o vice do atual governador? Ruim ser vice, pior não ter mandato?
Ao contrário do impulso que me fez escrever aquele tuíte sobre a candidatura de Lunelli, hoje não vou dizer ao nobre leitor o que imagino que possa acontecer nos próximos dias.
Enquanto você e eu vemos o MDB definir seu futuro, vou aproveitar esse domingo chuvoso para “traduzir” a nota divulgada ainda na noite de sábado e publicada hoje no perfil oficial do MDB no instagram, assinada pelo presidente estadual do partido, Celso Maldaner.
ATENÇÃO: os trechos em itálico são parte da mensagem original escrita por Maldaner. Os trechos em negrito são uma brincadeira simulando o que ele quis dizer de fato. Qualquer semelhança com a verdade, é mera coincidência.
Prezados emedebistas:
Na condição de presidente estadual do maior partido de Santa Catarina, o nosso grandioso MDB, cumpro o dever de informar que a possibilidade de uma candidatura própria ao Governo do Estado – defendida por uma ala do partido – em oposição a uma possível aliança, não significam de maneira alguma, um posicionamento definitivo.
Prezados emedebistas, ainda sou eu que mando nesse partido. Eu ainda não disse que iremos apoiar o Moisés (nem que teremos candidato próprio).
Em respeito à democracia, e considerando o desenho político-eleitoral que vem tomando forma em tempos tão conturbados, cabe-me ouvir todas as lideranças, militantes e demais pessoas envolvidas nesse processo decisório.
Considerando o desenho político-eleitoral, vocês não estão vendo que o Antídio não subiu nas pesquisas?
Por isso, no dia 13 de junho vamos nos reunir com o diretório estadual para discutir e decidir quais rumos devem ser seguidos a fim, principalmente, de preservar o MDB enquanto partido com 56 anos de história.
Estou anunciando essa data pra ver se consigo dar uma acalmada nos ânimos. Mas é claro que vamos decidir o que for melhor para o partido, vocês gostando ou não.
Diferenças não nos devem separar, mas sim, antes de tudo, representam um desafio a ser enfrentado com maturidade, coragem e sabedoria. Foi assim com Luiz Henrique e Pedro Ivo e recentemente com Eduardo e Mauro.
Por nada vocês tão se achando com a mesma importância do LHS, Pedro Ivo, e cia?
Graças ao diálogo, sempre chegamos a um consenso que fortaleceu mais ainda o partido, como quando apoiamos Raimundo Colombo a vice-governador e senador.
Tão vendo? Colombo saiu e a gente (Eduardo Moreira) assumiu. Querem mais o que?
Diante da imensa responsabilidade de dirigir o MDB estadual, administrar conflitos internos e respeitar os anseios gerais, nunca unânimes – e aí reside o valor da democracia – tenho como missão manter a unidade deste gigante com seus 97 prefeitos, 67 vice-prefeitos, 823 vereadores, 09 deputados estaduais e 03 federais e mais e mais de 180 mil filiados.
O MDB tem muita gente pelo estado. Não serão 3 ou 4 que me farão declinar de apoiar Moisés, se for o caso. O partido não é só vocês.
Atentem-se, emedebistas, às configurações eleitorais que quase sempre independem da nossa vontade, mas que asseguram a nossa potência política. Lembremo-nos de quem somos: aguerridos, valentes, audazes, mas estratégicos e flexíveis quando necessário. Não devemos nos fragmentar, de modo algum, mas antes resistir, crescer e traçar caminhos que nos garantam oportunidades de mostrar a nossa força no jogo político.
Atentem-se: não era isso que eu queria fazer, mas nesse momento, sabemos que a maior chance de fazer parte do governo, é sendo vice do Moisés. Não vamos brigar. Vamos crescer e começar a planejar o futuro.
Avante, emedebistas!
Juntos, somos fortes!
Celso Maldaner
Presidente Estadual MDB/ SC