Quando o MDB divulgou, no começo de 2021, que faria suas prévias em fevereiro daquele ano para decidir quem seria o seu candidato ao governo do estado, nem você, nem eu, nem o próprio MDB imaginávamos tudo que aconteceria depois. À época, o partido ainda vinha de uma ressaca pós-quase-impeachment do governador Carlos Moisés, que foi afastado em setembro de 2020 e retornou ao cargo ao final de novembro do mesmo ano, tendo o MDB como um grande opositor. Parecia, então, para o partido, que o cenário se desenharia sem grandes intercorrências naquele 2021. Com três nomes como possíveis candidatos, Antídio Lunelli, Dario Berger e Celdo Maldaner, o partido marcou, desmarcou e remarcou suas prévias diversas vezes durante o ano e viu suas lideranças em nítido descompasso, inclusive, publicamente. As prévias de fevereiro foram canceladas sob o argumento de que não seria prudente promover aglomero, por conta da pandemia. Em março, o governador enfrentou seu segundo afastamento por conta de um segundo processo de impeachment (retornando ao cargo em maio), só que dessa vez, com o apoio do MDB. E foi nesse momento que o que parecia encaminhado, começou a desandar. Se antes o MDB era uma pedra no sapato de Moisés, agora, a aproximação da bancada com o governador, começava a gerar algum ruído interno no partido. A essa altura, vendo que a aproximação começava a ficar nítida demais, o trio, que chegou a posar junto em agosto para mandar uma “mensagem” de afinidade a quem interessasse, começou a demonstrar um certo incômodo pela falta de definição de quem seria, de fato, o candidato a governador. Enquanto Lunelli corria o estado e pressionava para que a definição acontecesse ainda em 2021, a ala mais antiga do partido, representada pelos ex-governadores Eduardo Moreira e Paulo Afonso, defendia que a decisão deveria ficar para esse ano, mais precisamente, para 15 de fevereiro. Os mais velhos foram ouvidos e, de fato, ~ficou decidido que nada seria decidido~ naquele ano. Ao mesmo tempo, Moisés e o MDB se aproximaram de tal maneira que hoje ficaria indigesto construir um caminho diferente que não a filiação do governador eleito pelo PSL e atualmente sem partido. Ocorre que Moisés insiste, sabe Deus, porquê, em se filiar a um partido pequeno para conseguir o apoio de partidos tradicionais. Nos últimos dias tem ganhado força a hipótese de Moisés ter, então, como vice, Antídio Lunelli, trazendo o MDB para a sua chapa na disputa das eleições desse ano. Antecipando-se aos questionamentos, Lunelli usou as redes sociais neste sábado (22) para dizer que “nananinanão, não será vice de ninguém”. Ele quer ser o cabeça de chapa.
Veja o que ele disse:
No mesmo dia, o vereador de Guaramirim, Nilson Bylaardt, divulgou um vídeo em sua página no facebook, ao lado de Celso Maldaner, onde pergunta: “vamos ter candidato a governador pelo MDB?”. O deputado federal responde que sim e que Lunelli será o próximo governador do estado. Maldaner cita ainda o legado de Pedro Ivo, Luiz Henrique da Silveira e Paulo Afonso Vieira, ex-governadores do estado pelo MDB.
Assista ao vídeo aqui:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1112842662588004&id=100015868412278&sfnsn=wiwspwa
Acontece que essa movimentação de Lunelli de negar ser vice e Maldaner falando que ele será o candidato, pode até parecer só coincidência, mas não é. Isso tem cara, cheiro, cor e gosto de pressão para que Moisés desça do muro e assine logo a sua filiação, acabando com a novela que já cansou até o mais paciente dos catarinenses. Enquanto o leonino Carlos Moisés faz cara de paisagem e jogo de palavras com Avante, MDB e PSDB, propositalmente, para se divertir com a repercussão, o cenário permanece indefinido.
Falando assim até parece que há um racha no MDB. E falando com alguns de seus líderes, não parece. Se tem certeza. Foi o que deixaram claro os ex-governadores Paulo Afonso Vieira e Eduardo Moreira, que falaram ao site neste domingo (23), sobre todo o imbróglio pelo qual passa seu partido.
“Independentemente da minha preferência, eu sempre entendi que nós do MDB tínhamos uma candidatura natural ao governo do estado em 2022 que era do senador Dário Berger”, disse Paulo Afonso já no início da conversa. Segundo ele, o senador tinha o nome estadualizado pela eleição que o elegeu senador, tem um razoável destaque na política nacional, além de estrutura financeira, pessoal e familiar para ser o candidato.
O ex-governador relembrou, ainda, que em 2019, quando Celso Maldaner disputou a presidência do MDB com Dário Berger – e o venceu – deixou claro que não seria candidato a governador. Portanto, Dário seria o candidato. Só que o jogo mudou.
Candidatura inventada
“Todavia, dali pra frente, por razões que sinceramente eu não descobri, ainda, houve ou iniciou-se um processo lento e constante de solapamento da candidatura do Dário, de deterioração da sua candidatura, com contestações das mais diversas, que chegaram num momento com a história da candidatura do tal Antídio Lunelli, uma candidatura inventada, e a candidatura do próprio Celso, que, com todo respeito que ele merece, nunca existiu. O Celso nunca foi candidato a governador. E obviamente isso fragilizava, porque questionava a candidatura natural do Dário. Esse processo foi se complicando com a tal das prévias, que foi apresentada pelo Celso como a iniciativa mais inusitada mais pioneira, mais democrática de todos os tempos, em qualquer lugar, em qualquer partido e que hoje é um problema seríssimo, um nó que o MDB tem que desatar”.
A chegada de Moisés
“Chegamos então num momento que, por essa fragilização da candidatura natural, pelas contestações de outros, pela indefinição do partido, entra no palco o governador Carlos Moisés, trazido à baila pela bancada estadual, bancada esta que em nenhum momento ouviu o partido, conversou com as lideranças, com a executiva, com o diretório, sobre seu posicionamento. Quando do primeiro processo de impeachment do Moisés, quando não havia nenhuma razão, eu penso assim, a bancada se empenhou ao máximo, para cassá-lo. No segundo momento (segundo processo), quando até havia indícios, não estou dizendo que merecia ser cassado, mas havia, sim, indícios razoáveis que permitiriam uma decisão política de cassação do governador, aí a bancada, depois de ter atacado, questionado e agredido o próprio governador, resolveu absolvê-lo. E em seguida adentrou o governo de corpo e alma. Cito apenas como exemplo a Secretaria de Educação. Se tem uma secretaria que está na alma do governo pela sua dimensão, pela sua importância, pela sua capilaridade, é a Secretaria de Educação”.
Um cadáver insepulto
“Então hoje nós temos um quadro em que o senador Dario conversa ostensivamente com outro partido, o PSB, para viabilizar uma candidatura por esse partido, fora do MDB. Temos a bancada defendendo o governador Carlos Moisés, temos a tal prévia, como um cadáver insepulto, o Antídio como candidato dele mesmo e o Celso que nunca foi candidato.
Só apoia Moisés se for no MDB
“Como eu vejo nesse momento: a bancada sentiu e isso eu percebi, embora com poucas conversas, que o MDB até aceita que o Moisés seja o candidato, mas se for no MDB. Veja que isso não é pacífico, nem é tranquilo, mas é deglutível. Mas não aceita, em hipótese alguma, ser o vice do Avante (partido que surgiu na cena como possível destino de Moisés), e a bancada percebeu isso e está numa entalada porque ela quer o Moisés. Eu presumo que o governador não queira vir pro MDB e o MDB não quer o governador se não for no próprio MDB. O Dário já bastante adiantado nas conversas externas como mencionei a pouco. Esse nó como que vai desatar? Cada vez mais complicado na minha visão.
MDB isolado
“O MDB se isolou, hoje é um partido que não é procurado por ninguém, a não ser pra aderir, seja na campanha do Gean (Loureiro) ou do (Raimundo) Colombo, ou do Jorginho (Mello) e o quadro fica cada vez mais confuso pro nosso partido. Os companheiros, infelizmente, ficam se deleitando e vivendo num mundo surreal, num universo paralelo, dizendo que nós temos 90 e tantos prefeitos, a maior bancada disso, a maior bancada daquilo, como se isso por si só fosse suficiente para a vitória na eleição desse ano. Como se nós não tivéssemos problemas seríssimos, vazios enormes, em municípios importantes como Florianópolis, Blumenau, Lages, perdido espaço no sul, onde sempre fomos fortes. Enfim, como se nós fossemos ainda a grande potência capaz de destruir os demais e vencer a eleição com a mão amarrada nas costas.
Jamais estarei com Antídio Lunelli
“Eu, particularmente, jamais estarei com Antidio Lunelli. Ele não tem nada a ver conosco. Se tu acompanhasse o que ele posta no grupo do MDB (no whatsapp) é algo que me choca sobremaneira. Ele defende a ditadura, ele defende os torturadores, ele elogia Bolsonaro, ele critica os governos do MDB, enfim, ele não tem nada a ver com os nossos princípios, com a nossa luta e com a nossa história. Então eu me sinto muito à vontade, não pretendo tumultuar, mas vou sempre firmar essa posição. O meu voto, meu apoio, minha simpatia, ele não terá. Não é possível um partido que tem tantos nomes tenha que buscar numa pessoa que não tem nenhuma afinidade conosco, pra ser o candidato. Eu tenho acompanhado com muita angustia, até pela minha responsabilidade que imagino ter com o MDB, que ajudei a construir, que ajudei a fundar, que participei ativamente, que me deu mandatos, e que me dediquei a vida inteira, ver o nosso partido totalmente desorientado, perdido, sem rumo, aqui em SC e numa confusão generalizada. Esse é o quadro que eu vejo. Estamos neste instante perdendo um senador, isolados no processo político, com um nó a desatar da candidatura Moisés que os deputados aderiram entusiasticamente e estão aí distribuindo recursos, publicando fotos, demonstrando entusiasmo e adesão, prefeitos até fazendo isso e exaltando a atuação do governador e esse é um nó a ser desatado”, disse Paulo Afonso.
Questionado se apoia a candidatura de Carlos Moisés pelo MDB, o ex-governador disse que seu candidato a governador precisa ser anti-Bolsonaro. Então podemos considerar que sim, ele pode apoiar Moisés, pois, dessa vez, o comandante não será o candidato do presidente em Santa Catarina. (Essa vaga ainda está em aberto – mas eu não disse isso aqui, ok?! rs). Ainda sobre se irá disputar alguma vaga nesta eleição, disse que pretende concorrer ao senado.
Já Eduardo Moreira, num tom de preocupação, concordou com o colega de partido ao dizer que o nome natural do MDB seria Dário Berger e também lembrou o que ficou combinado entre Berger e Maldaner de que o segundo seria presidente do partido e não seria candidato a governador.
O trio parada dura
“O Celso colocou o nome dele, depois o Antídio colocou e depois o Dário. Então durante um ano o MDB ficou discutindo quem seria o candidato e isso enfraqueceu o partido como um todo porque em vez de ir buscar parceiros o MDB ficava em discussões internas então perdemos tempo, infelizmente. O Dário pelo jeito tá saindo mesmo, o Celso não é candidato, sobra o Antídio. O MDB deveria ter indicadores pelo menos pra que um grupo de pessoas soubesse como é o desempenho eleitoral, as pesquisas, qual é o objetivo, isso não aconteceu. E aí começou a divisão mais intensa ainda a partir do momento em que a bancada atual quase totalmente, assumiu a condição de apoiar o Moises e já tem havido uma reciprocidade. Aí no sul o prefeito de Cocal, os prefeitos do Vale do Ararangua, apoiando o governador. Então o MDB está muito dividido. O caminho que eu acharia natural agora, seria o Moises vir pro MDB. Era uma forma de nós nos unirmos de novo em torno de um nome. Eu acho que esse seria o caminho melhor. Se isso não acontecer, eu realmente não sei te dizer o que que pode acontecer porque estamos divididos. No passado já tivemos histórias parecidas de divisão e depois nos aglutinávamos, mas em torno de um grande líder, nesse momento o MDB não tem um líder que nos conduza. To preocupado. Solução pronta ninguém tem dentro do MDB hoje”, finalizou Moreira.
Uma resposta
Paulo Afonso tem que sair de casa, ir pra estrada, tomar ciência do que as bases do mdb querem.
Chega de filosofia.