Há um dito popular que diz: “quem foi rei nunca perde a majestade”.
Quem já foi governador, também.
Ocupar a cadeira mais importante de um estado, tem lá seus ônus e seus bônus, além de muitas histórias para contar.
Na semana em que Santa Catarina vive um momento político importante com a votação do tribunal especial do impeachment do governador Carlos Moisés, revisitamos nossa história nessa entrevista com o ex-governador Paulo Afonso Vieira. A conversa foi transmitida ao vivo pelo instagram na última sexta, dia 30 e os vídeos ainda estão disponíveis na rede social (@magastopassoli).
Paulo Afonso foi governador de Santa Catarina de 1995 à 1999. Em 1997 sofreu um quase impeachment. Quase, porque, à época, a Assembleia Legislativa não deu prosseguimento ao pedido e o processo foi arquivado.
Com saudades dos tempos de governador, com algum sentimento pela forma como algumas questões se desenharam na sua trajetória e emocionado com a chegada da vacina, o ex-governador falou da sua história, do contato com Carlos Moisés da Silva, da política com ódio e de 2022.
Confira a seguir:
Maga: em 2018 o MDB sofreu uma derrota importante para um candidato principiante mas em 2020, elegeu a maioria dos prefeitos em SC. O Sr. acha que em 2018, a “onda Bolsonaro” foi subestimada?
Paulo Afonso: o que eu penso é que em SC a tal onda Bolsonaro assumiu proporções muito acima do que houve em outros estados da federação. Nós temos que dar uma olhada específica no caso catarinense, porque houve sim uma certa guinada conservadora no geral, mas esse fenômeno de que o eleito presidente vir a arrastar a eleição de governadores, ele se deu em alguns lugares mas onde o eleito foi, com todo respeito e consideração que tenho pelo Governador Moisés, uma pessoa totalmente fora do radar político eleitoral, uma pessoa que praticamente ninguém conhecia. Um estado desenvolvido, rico, único onde isso aconteceu. Aqui isso se deu de uma forma surpreendente, onde um outsider foi eleito. Mas, em 2020, esse fenômeno já não se repetiu. Pode-se dizer “ah mas é uma eleição municipal”, tudo bem, e eu dou esse desconto, mas não houve nem um pinguinho daquele fenômeno. Os candidatos eleitos ou reeleitos foram os tradicionais, prefeitos reeleitos, pessoas que já militavam. Sendo que os reeleitos foram reeleitos tranquilamente. E digo mais: aquele discurso “votem em mim porque eu não sou da política”, isso nem pra vereador deu certo.
E para o ano que vem, esse fenômeno bolsonarista arrefeceu bastante.
Maga: que lições o MDB tira das eleições de 2018 e 2020, para 2022?
Paulo Afonso: olha, eu to convencido que o resultado de Santa Catarina foi basicamente por causa da onda, mas houve alguns erros também e pra mim um erro que tem que se aprender, é que o MDB fez uma campanha como se nunca tivesse estado no governo. Isso é um erro brutal, com todo respeito. Nós estávamos no governo desde a eleição do Luiz Henrique (governador Luiz Henrique da Silveira), depois também com Raimundo Colombo, o Eduardo era o governador naquele momento, então aquela história que “ah mas o serviço não atende, paga-se muito imposto e não se recebe”. Então nós somos os culpados porque nós éramos o governo, então eu acho que esse tipo de coisa é que não pode. Todos os governos tem erros e acertos, isso é natural. Não existe governo que só acerta ou que só erra. Mas ninguém vive só olhando pra trás.
O preço de furar a fila
Maga: o que o Sr. vê de similar entre o seu governo e o do Carlos Moisés da Silva, além da pouca experiência quando foram eleitos governadores?
Paulo Afonso: um ponto que pra mim pesou muito na época, não ter passado por Brasília antes de ser governador. Porque em geral, naquele momento, em outros estados, os governadores eram ex-senadores, ex-deputados, ex-ministros, pessoas que conviveram anos e anos. Por exemplo, em São Paulo, o governador era o Mario Covas, 30 anos em Brasília, como deputado e senador. Eu tinha sido só deputado estadual por um mandato então essa diferença, embora as autoridades recebam o governador de Santa Catarina, obviamente com o respeito que merece, mas é diferente quando chega e já tem conhecidos lá. O governador Moisés não tem nada disso, é uma coisa que pesa, essa falta de contato com Brasília. E embora eu fosse de um partido tradicional o MDB, um partido forte, tanto eu quanto Moisés pagamos um pouco o preço de uma certa ruptura na fila porque a minha candidatura foi se consolidando por uma série de fatores e pelo meu esforço, mas eu ultrapassei lideranças antigas (que queriam ser candidatos a governador). E o governador Moisés, então, ele ultrapassou todos, isso tem um peso. Mas, modéstia à parte, eu tinha sido secretário, tinha sido deputado, líder da bancada, então eu tinha muito mais “cancha” pra estar no governo.
“Não existe isso de nova política”
Maga: o Sr. acha que Carlos Moisés está sofrendo represálias por ter “furado a fila”? Vocês mantém contato?
Paulo Afonso: eu tenho pelo governador Moisés muito respeito. Eu tive contato algumas vezes agora, mas não o conhecia, mas tenho respeito pela figura humana. Tem uma coisa que é importante: quando ele veio, ele e a sua vice, hoje governadora em exercício, estava muito naquela onda da “nova política”, então todos nós que militávamos na política, a mais ou menos tempo, tinha assim uma lata de lixo bem grande, pega todo mundo e joga pra lá que agora é a vez da “nova política”. Não existe isso de nova política. Na política tem gente que é boa, gente que não é boa, como tem no jornalismo, na igreja, é natural. Claro que o político ruim causa mais dano porque a sua ação atinge a sociedade. Mas não essa coisa de nova política. E veja que hoje já nem mais se fala mais disso.
E ele chegou renegando a política e esse foi um erro grave. Renegando tudo que tinha a ver com a política, tudo que tinha antes. Eu disse isso a ele numa conversa.
Maga: ele procurou o Sr. pra ouvir sua opinião durante o processo de impeachment?
Paulo Afonso: sim, nós conversamos no ano passado, assim como ele procurou o ex-governador Eduardo, ele procurou lideranças do MDB, o que é natural e me parece bastante sensato, mas ele fez isso e depois caiu a ficha dele. Ele fez um governo de desconhecidos. Ele não só rejeitou a questão partidária, diferente do que fez na segunda etapa e do que faz a governadora. Ele trouxe pessoas que nem mesmo nos seus segmentos eram destaques. Ele errou muito nisso, virou as costas para a sociedade e para a Assembleia (Alesc) e hoje ele paga um preço alto. Eu não sei qual vai ser o resultado da votação (da próxima sexta, dia 7). Agora, há uma disputa interna entre eles, veja que coisa interessante. Coisa que não houve no meu caso, eu e o Dr José Augusto Hulse, nós estávamos juntos. Não tinha isso de “empurra o Paulo Afonso que aí eu assumo”, não tinha isso. Nós vivemos agora uma disputa acirrada entre a chapa vitoriosa pra ver quem fica no governo. Por isso que eu resumo que a tal nova política nem existe mais. Ela trouxe todos os defeitos da velha política, sem trazer as suas virtudes.
Conselhos para o governador
Maga: que conselhos o Sr. deu ao governador Carlos Moisés?
Paulo Afonso: usei uma expressão que tá muito na moda. Eu disse que ele tinha que “repaginar” o governo, como depois ele começou a fazer. Repaginar não é só ceder espaço pra ter apoio dos deputados. Muitas vezes trazer uma liderança que tenha destaque e muitas vezes nem é vinculada a um partido, mas que pela sua respeitabilidade dos setores, pode ocupar um lugar no governo. Isso gera simpatia política.
Acho que ele teve essa noção. Ele foi depois atropelado pelo segundo processo (de impeachment), porque o primeiro processo era pra ter terminado com o governo. Aí agora o segundo que era pra cumprir tabela, todos fomos surpreendidos com o resultado. A sra. governadora mudou tudo e pode ser que na semana que vem mude-se tudo de novo. A administração vem sendo inconstante há quase dois anos.
Maga: o Sr. tem saudade da velha política?
Paulo Afonso: a chamada velha política ajudou a construir o estado que nós temos. Eu fico muito indignado, eu fico sentido, não por mim por ter sido governador, mas por todos que de alguma forma colaboramos e lutamos, por que Santa Catarina atingiu indicadores que hoje nos diferenciam.
A impressão que se tem nessas críticas é que nunca se fez nada, tudo que hoje temos caiu do céu assim de forma milagrosa, por obra de Deus, de Allah, de Buda, sei lá que quem.
Ação municipalista
Maga: o que o Sr. mais tem orgulho quando lembra do seu governo?
Paulo Afonso: eu tenho orgulho mesmo é da nossa ação municipalista e eu digo isso porque nós fizemos obras e ações em parcerias com as prefeituras que resolveu problemas que se arrastavam por muitos anos.
Maga: por exemplo?
Paulo Afonso: às vezes uma pequena ponte, uma unidade de saúde no interior, uma escola numa localidade mais distante. Eu fui governador numa época de transição para o mundo mais moderno que temos hoje, nós nos gabamos com orgulho de termos colocado um computador em cada escola, olha que coisa bacana (risos). Quando eu assumi o governo, mais de cem cidades em SC não tinham um ginásio de esportes, uma quadra coberta. Hoje nenhum governador vai falar em construir um ginásio, porque isso é com os prefeitos.
Eu me lembro, do Jorge Bornhausen, uma das pregações dele era levar um aparelho de raio-x para cada município, claro que é um aparelho ainda muito utilizado, mas a tecnologia que temos nessa área hoje nem se compara.
Então no nosso governo, nessa ação municipalista, fizemos essas obras que marcaram muito e 20 anos depois eu ainda escuto isso com muita alegria. Não foram obras gigantes, não foram elefantes brancos, mas eram obras que modificavam a vida das pessoas. Eu me orgulho muito disso.
À época, eu acredito tenha sido o primeiro governador que visitou 100% dos municípios pelo menos uma vez.
Maga: e o assunto “precatórios”, como o Sr. lida com isso tanto tempo depois?
Paulo Afonso: em primeiro lugar, destacando que eu fui julgado do ponto de vista penal, em várias instâncias, também na justiça catarinense e fui absolvido em todas elas. E no aspecto político eu sempre traço um paralelo: dois estados na época, fizeram de forma muito semelhante aquela operação (dos precatórios), Santa Catarina e Pernambuco. Pernambuco era governado pelo histórico Miguel Arraes, uma lenda da política nacional, cujo secretário da Fazendo era o seu neto, Dr. Eduardo Campos, que mais tarde viria a ser o governador. Interessante que lá o processo não tomou nenhum dos contornos que aqui teve. Nenhum, do ponto de vista político. Lá era Miguel Arraes, aqui era Paulo Afonso. Arraes, 50 anos de estrada, Paulo Afonso, novinho. Tudo foi igual, os mesmos procedimentos. Eis que anos depois, Eduardo Campos surge candidato a presidente da república. O homem que fez a operação que nós copiamos era candidato a presidente, com grandes chances até e que foi vítima de uma fatalidade no acidente aéreo. E as vezes eu me pergunto: porque que ele ia ser presidente da república e eu ia ser bandido? Qual é a diferença nas duas situações?
Se nós fizemos a mesma missão, as mesmas autorizações do Banco Central, do senado federal, tudo igual. Ele continuou a carreira, depois foi secretário, deputado, governador e ia ser presidente talvez e eu aqui ficou sempre aquela estigma, aquela lança apontada no meu coração e pra minha carreira. Então eu sempre levanto esse ponto. Porque? Porque eu era jovem? Foram tantos casos iguais Brasil afora e nenhum tomou a dimensão que aqui tomou. Aquela coisa hostil, agressiva. “Tem que afastar o Paulo Afonso, tem que tirar, tem que bani-lo da vida pública”. Mas a gente seguiu em frente e estamos sempre na luta. A minha missão continua.
Maga: o senhor tem alguma mágoa sobre esse assunto?
Paulo Afonso: obviamente aquilo trouxe um dano a carreira. Eu disputei a reeleição e não fui vitorioso e nas circunstâncias que lá em Brasília, na comissão da CPI estavam meus dois grandes adversários, eu não tinha condição de enfrentá-los mas, evidentemente, eu poderia ter ido mais adiante (politicamente). O Eduardo campos não foi quase presidente? Então veja que, inclusive ele estava sendo apoiado aqui em Santa Catarina, por lideranças que queriam me estrangular naquele processo dos precatórios. Eu queria que pelo menos as gerações atuais refletissem sobre isso, sobre as coisas da política. Repetindo: que do ponto de vista penal eu fui absolvido e na Alesc o processo não houve, não teve instalação do tribunal como está acontecendo agora, como está acontecendo no RJ, então superei mas fica o dano.
Depois de tantos anos muitos ainda falam “O ex-governador Paulo Afonso – ah aquele dos precatórios”, ninguém fala “aquele do governo municipalista”, mas, vamos em frente.
Maga: governador, eu abri uma caixa de perguntas nos stories do instagram e uma pergunta que recebi lá, foi: – A casa da agronômica é mal assombrada?
Paulo Afonso: não, não é e nunca foi. É uma casa enorme, meus filhos moraram lá quando pequenos. É uma casa construída nos anos 50, mas não tem nenhuma assombração não, tem um terreno bonito, nunca vi nada de assombroso lá.
Maga: o Sr. tem vontade de voltar a ocupar aquela cadeira?
Paulo Afonso: olha, se eu dissesse que não eu estaria mentindo. Eu não sei se as condições materiais e temporais se viabilizarão. Eu posso até tentar ser candidato, mas pra gente disputar uma eleição tem que ter perspectiva de vitória, uma certa condição, mas nesse momento não me parece muito isso mas também não quer dizer que não possa né, as voltas que o mundo dá.
Agora falando do ano que vem, a eleição pra governador é um quadro ainda muito nebuloso. Ela é uma coisa ainda muito indefinida. Muitos nomes surgem, porque há quase um “zeramento” do jogo. Então tem muita gente de olho na eleição do ano que vem. Além do que a própria questão de quem estará no governo.
Eu digo como observador, o governador Moisés, se não estivesse agora de novo nessa situação, ainda que ele retorne, eu entendi quando ele superou o primeiro afastamento, que ele seria candidatíssimo à reeleição. Agora já é diferente, mesmo que ele retorne. O processo vai deixando machucados, feridas. E a própria governadora é uma incógnita se vai continuar e se tem esse projeto aí a frente até porque ela tem alguns aliados hoje que são claramente candidatos ao governo.
Maga: o Sr. vai ser candidato a algum cargo ano que vem?
Paulo Afonso: é possível, vamos ver que condições se desenham pra gente participar. O que eu entendo é que o MDB tem que ser um protagonista deste processo e vou mais além. O projeto do MDB não pode ser conservador. O MDB nunca foi conservador. O MDB nunca foi um partido esquerdista, mas sempre teve ideias avançadas, um partido que buscou mudar as coisas. Sempre foi vinculado e teve apoio dos setores menos favorecidos da sociedade, das pessoas que mais precisam de atenção do poder público, sempre teve ideias mais modernas. Eu acho que se nós fizermos um discurso conservador nós não vamos a lugar nenhum. Porque esse campo conservador em SC já está tomado, ele está congestionado de tantos candidatos que são bolsonaristas, semi-bolsonaristas, quase bolsonaristas, e que vão disputar esse espaço. Em compensação esse espaço mais progressista, está aberto, bem aberto e o MDB sempre ocupou esse espaço. É só olhar nas eleições majoritárias de onde vem o voto pro MDB. Vem dos municípios menores, vem das regiões não centrais das grandes cidades. O voto vem daquele que espera um governo que trabalhe em benefício da sociedade, em educação, saúde, infraestrutura, etc. O MDB sempre foi um partido progressista.
Maga: outra pergunta que veio da caixinha: “a democracia está em perigo?”
Paulo Afonso: eu acho que está. Um dos motivos que me motivam a continuar nessa luta é exatamente esse. A vida me deu o privilégio de, muito jovem, participar da luta pela redemocratização do Brasil. Eu vivi isso com 16, 17 anos de idade. Participei disso de forma entusiasmada e eu nunca pensei que nós, depois de ter reconquistado a democracia, escrito uma constituição democrática e cidadã, realizado eleições diretas, nós pudéssemos ter nesse instante do Brasil uma clara incerteza quanto a continuação do nosso regime democrático. Nós tivemos primeiro, ao longo dos últimos anos, um processo deliberado vindo de setores conservadores e com projeto político muito claro, de estigmatização, demonização e criminalização da política. Nós vimos isso. O objetivo era destruir a política. E isso não aconteceu só no Brasil, isso aconteceu na Itália, ou seja, destrói-se a política, com isso destrói-se os partidos, com isso a própria democracia. Isso foi feito de forma deliberada, sob o aplauso, inclusive, de muita gente boa, que achava que estava se fazendo uma limpeza nas práticas administrativas do Brasil e isso nos levou a coisas que nós estamos vivendo hoje. E eu sempre olho num paralelo da Itália, que teve a operação Mãos Limpas, no qual a lava jato se inspirou. A Itália que é um país rico, desenvolvido e que enfrenta problemas seríssimos de unidade nacional.
Quem diria que alguém que a gente nunca ouviu falar, entrava no telefone dos outros e pudesse trazer tanta informação ao brasil naquela operação que era aplaudida por tantos. Aliás parece que o chefe dessa operação não está mais nem no Brasil.
Só que quando ele achou que ia sobrepujar a sua cria, que foi o presidente eleito, ele recebeu o “chega pra lá” que recebeu.
Quer que eu seja mais claro? Eu posso ser!
Maga: Fica à vontade!
Paulo Afonso: a operação lava-jato, muito mais do que combater a corrupção, ela tinha um objetivo de destruição da política. Não era só destruir o PT. Ela levou o Brasil a um descrédito na política que nós vamos levar um tempo pra se refazer. E a gente sabe que isso não foi feito só com o intuito de acabar com a corrupção. Na Itália, se havia corrupção, continua havendo. Então essa questão que alguns messiânicos vem ungidos pelos deuses, por Deus, por Allah ou por Buda, pelas entidades maiores do universo, e vem pra salvar a pátria, isso nunca deu certo em lugar nenhum, em tempo algum, não existe isso.
Nelson Rodrigues dizia: “escondido no discurso de um grande moralista, sempre tem um canalha”, e atrás de um cara da seriedade, da honestidade, tem alguma coisa que não cheira bem e nós vimos isso. Só que felizmente vimos a tempo.
Maga: então em 2022, o Sr. acredita que a onda não reelege Jair Bolsonaro?
Paulo Afonso: nós ainda estamos num momento de radicalização das posições políticas, e isso não é um mal, faz partes dos processos políticos esse tipo de coisa mas estamos vivendo. Temos de um lado e de outro, lideranças muito fortes. Seja o presidente atual, seja o ex-presidente Lula. São lideranças muito fortes e fica difícil sim entrar nisso aí. Como todas as grandes lideranças, despertam muito amor e muito ódio ao mesmo tempo. Mas uma coisa que eu admiro nessas situações, é que se tem clareza dobre o que pensam, tanto Lula quanto Bolsonaro. As vezes vem aquela história “eu não sou nem direita nem esquerda”, mas é o que então? Me diga, do que você gosta?
Essas candidaturas de centro, moderadas, são ótimas, mas tem que dizer o que pensa. Hoje eu acho difícil que se viabilize uma candidatura chamada de centro. É visível, que o ex-presidente lula tem feito um movimento muito inteligente e muito pragmático rumo ao centro pra ocupar esse espaço.
Maga: o Sr. mencionou que grandes líderes são amados e odiados. Um dos erros do Carlos Moisés é não despertar nem muito amor e nem muito ódio?
Paulo Afonso: eu acho que essa é uma das questões. Primeiro que o governador, pela sua índole, sua falta de experiência, ele passou um ano inteiro, o primeiro ano de governo, sem nenhum tipo de conato com a sociedade. Com a imprensa com os segmentos, não falo nem com os políticos não, estou falando da sociedade. Ele nunca dava entrevista, nunca tinha nenhum tipo de contato. Eu me lembro de uma pesquisa que tinha uns 5 ou 6 meses de governo, que 50 e poucos por cento dos catarinenses não sabiam o nome do governador. E ele fez 75% dos votos no segundo turno. Então veja, modéstia à parte, alguns devem lembrar, no meu processo de impeachment houve uma mobilização imensa, principalmente dos mdbistas, em defesa do meu mandato. A imprensa mostrou, nos dias das votações na Alesc, não havia ninguém, nem dum lado, nem do outro. Nem parece que nós estávamos decidindo se o governador continuava ou não, era uma coisa tão fora. Tanta gente quis ele e agora ninguém se interessa? Ele fez uma votação expressiva e as pessoas ficam indiferentes?
Não estamos decidindo se o técnico do time de futebol ou o diretor da escola vão ficar. É o governador do estado, é o cargo mais importante que Santa Catarina tem, é a decisão do nosso futuro, do nosso estado.
Agora uma observação, nós tínhamos conseguido até recentemente, fazer uma política dura, àcida, mas sem ódio. O problema é que hoje nós temos impregnado na sociedade o ódio, entre as posições políticas, isso é muito ruim. Estamos no Brasil, vivendo esse momento em que se a pessoa tem uma posição diferente “eu já estou odiando”.
Parece que tem um receituário, se eu sou de um lado, parece que tem uma cartilha do que tem que falar. Se eu não falar, eu não sou desse lado aqui.
Gostaria, se tu me permitir, de dizer que amanhã (no sábado, dia 1º), eu vou tomar a vacina! Chegou a minha vez aqui em Florianópolis, e confesso que eu tenho uma emoção com isso, hoje passei o dia agitado, esperando o dia de amanhã. Eu queria desde já aproveitar este instante pra homenagear, prometo que amanhã não vou sair do carro pra fazer discurso, mas eu quero homenagear os cientistas que trabalharam incansavelmente. As pessoas que lutaram ao longo desses meses pra produzir as vacinas, pessoas da saúde que tem sido incansáveis nessa luta, nos hospitais, unidades de saúde, quero homenagear tbm as autoridades municipais, estaduais, prefeitos, secretários de saúde, que tem sido incansáveis. Não tem sido fácil, olha, é negacionismo, é burocracia, má vontade, incompetência, pra conseguir trazer as coisas, pra fazer acontecer, mas ainda que não na velocidade desejada, mas os prefeitos e muitos governadores, estão conseguindo fazer com que, gradativamente, chegue a nossa vez de tomar a vacina que é o caminho pra nós superarmos esse período tão difícil que temos vivido. Então eu homenageio essas pessoas, sim, com muita emoção até! E amanhã chegou a minha vez!