Os R$ 33 milhões e a gestão de crise de imagem do governador

17/08/2021

A operação de compra dos respiradores pagos antecipadamente, em março de 2020, quase custou o cargo do governador catarinense em início de carreira política. Carlos Moisés da Silva, o Comandante Moisés, foi eleito em 2018, na onda bolsonarista encabeçada por Jair Bolsonaro, que prometia dar uma nova cara à gestão pública. A então chamada Nova Política, termo que já caiu em desuso por não ser possível estabelecer o que é nova ou velha política, já que tudo é política, prometia, acima de tudo, zerar a corrupção e os desvios de dinheiro no país. Mas no meio do caminho, tinha uma pandemia.

Das consequências da compra desastrada dos respiradores, além do processo de impeachment que o governador enfrentou, houve também um intenso desgaste da imagem daquele que viria para fazer tudo diferente na política. Além dos erros de estratégia política no início do mandato, que lhe renderam muita dor de cabeça, a pergunta que Carlos Moisés mais ouviu foi:

“ – Cadê os R$ 33 milhões, governador?”

O processo de impeachment foi arquivado, mas a pergunta nunca foi respondida. Pelo menos, não, completamente. Nesse meio tempo, o comandante tomou gosto pela política, afinal, o poder é mesmo fascinante, e está a plenos pulmões trabalhando pela reeleição.

“Ah, mas ele não disse que será candidato”, dizem alguns. E nem desdisse.

E é aí que entra a magia da gestão de crise de imagem.

O site lançado nesta segunda (16), exclusivo para o caso dos respiradores, é a prova cabal de que Moisés já trabalha pensando em 2022.

Numa gestão de crise, duas coisas são fundamentais: o que fazer e o que não fazer.

A primeira, é ser direto. Chamar o assunto para si. A segunda, é fugir do assunto.

Quando Carlos Moisés põe no ar um site específico para detalhar o processo de recuperação do valor que ainda falta (cerca de R$ 14 milhões já foram recuperados), ele dá alguns recados aos catarinenses, de modo muito sutil.

Chamar a responsabilidade de informar e responder onde está o dinheiro, passa a imagem de um governador que não tem medo do resultado final do processo (que corre em segredo de justiça). Dessa forma, esvazia os argumentos dos adversários que pode vir a enfrentar no ano que vem, já que expõe a própria imagem para ilustrar o fato. Além do site, o Governador publicou um vídeo com duração de mais de dois minutos em suas redes sociais, abordando o assunto. Ao não fugir do assunto, Moisés dá a impressão de que recuperou a segurança e a autoestima política, deixando claro que os novos desdobramentos não dependem somente dele e, sim, dos órgãos responsáveis pela investigação. O site foi estrategicamente pensado para conduzir o leitor a criar uma imagem de responsabilidade e seriedade por parte do governo do estado, com o claro objetivo de distanciar a pergunta inicial da imagem do governador.

Se Carlos Moisés quer, de fato, ser candidato à reeleição, precisa chegar em 2022 com alguns assuntos resolvidos. O caso dos respiradores, é um. Abordar o fato mais emblemático do seu governo, um ano antes das eleições não é coincidência., é estratégia para distanciar o assunto da campanha do ano que vem. E vai funcionar. O leonino que aniversaria nesta terça (17), sabe que, dar a cara a tapas, nunca foi tão certeiro.

Acesso o site aqui:

http://www.sc.gov.br/respiradores/

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