Existe uma lenda urbana, talvez nem tão lenda e nem tão urbana, que diz que existem fantasmas na Casa Da Agronômica, a residência oficial do governador do estado em Santa Catarina. Se há ou não, honestamente não pretendo descobrir, porém desde que se mudou para lá, Carlos Moisés da Silva tem vivido intensamente tudo que o peso do cargo traz consigo, com ou sem fantasmas.
Fazendo uma analogia, diria que pode ser comparado ao Big Brother – o programa de TV que transmite 24h por dia o que fazem as pessoas dentro da casa aonde estão confinados.
Isso porque, Moisés, tal qual um mero espectador do BBB alçado a participante do programa, foi levado ao governo do estado. Em comum, ambos chegam lá sem experiência na função.
E não só isso.
Ambos foram colocados lá por escolha de alguém. No caso de Moisés, pela escolha de mais de 70% dos catarinenses.
Não se pode dizer, por exemplo, que não teve emoção na gestão do bombeiro que virou governador. Ou, pelo menos, na Agronômica. Foi no governo dele que a residência teve a primeira operação de busca e apreensão pela PF. Também foi lá que ele esperou durante 30 dias em 2020, até ser reconduzido ao cargo, após passar pelo primeiro processo de impeachment. Chamado de governador encastelado, por sair pouco da Casa Oficial, Moisés retornou à segunda temporada do seu governo, como quem é líder no BBB depois de escapar do paredão. Aprendeu com os erros e retomou os trabalhos, com a certeza de quem não iria ser “votado” novamente.
Mas, como no BBB, a política também tem amarrações que muitas vezes escapa aos olhos do público.
De um primeiro processo de impeachment quase risível, (aquele do aumento dos procuradores do estado), Moisés foi conduzido a um segundo processo, o dos respiradores.
Fato também inédito na vida de um morador da Casa da Agronômica: dois processos de impeachment sendo levados adiante em menos de um ano.
No primeiro, os desembargadores que compunham o chamado tribunal do impeachment, adotaram uma postura exatamente oposta dos que fizeram parte do julgamento de ontem.
Dessa vez, o objeto da ação foi a compra desastrada dos respiradores que custaram ao estado 33 milhões de reais e que, até agora, não apontou os verdadeiros responsáveis pela ação.
Falei recentemente, num dos textos que publiquei aqui sobre esse assunto, que Moisés tinha a seu favor o parecer do MP dizendo que ele não era culpado pelo sumiço do valor. Disse também que o que pesava contra, era a falta de resposta para a pergunta que assombra o governador há um ano: cadê os 33M?
Bem medido e bem pesado, o tribunal julgou procedente a ação de investigação e o resultado foi o afastamento de Carlos Moisés da Silva da função de governador do estado por até 120 dias ou em definitivo.
Dessa forma, reassume a vice, Daniela Reinehr e o processo segue seu curso.
Bolsonarista de carteirinha, Daniela é seguidora da CCB (Cartilha Covid Bolsonarista).
Podemos esperar um governo alinhado a quem espera o tratamento precoce, numa ode matinal à cloroquina e, máscara, digamos, não é o acessório favorito de seus seguidores.
Daniela costuma fechar suas redes sociais para comentários.
Um comportamento que a acompanha desde o “primeiro mandato”.
No pior momento da pandemia, esperamos que Reinehr faça um governo decente, em prol da vida dos catarinenses, embora a esperança, nesse sentido, é maior do que as evidências até o momento.
Resultado do impeachment, o governo já passa pelas primeiras baixas. A primeira delas, assim que terminou a votação de ontem, foi a saída de Eron Giordani, Chefe da Casa Civil. Giordani, inclusive, disse ao colega Marcelo Lula, após sua saída que “o tempo, não muito distante, vai revelar as verdades desse julgamento”.
E as informações a respeito já começam a circular. (Mas isso é assunto para outra hora).
Que o processo seja justo, que surjam as respostas que os catarinenses tanto buscam e que a verdade prevaleça, acima de tudo e todos.
Talvez, para a história política fique um questionamento: qual a nossa responsabilidade enquanto eleitor nisso tudo que está acontecendo?
Se Carlos Moisés chegou lá e, supostamente, cometeu erros, não chegou sozinho.
Sobre os fantasmas, se há ou não, ainda não sabemos, mas que o 26 de março virou uma assombração na vida de Moisés, não se pode negar. (26 de março completou um ano da compra dos respiradores).
Se o impeachment fosse um paredão do BBB e Daniela tivesse de votar, diria no confessionário:
“Meu voto vai no Carlos Moisés por uma questão de afinidade. Já até formamos dupla e disputamos a liderança mas agora é um momento muito difícil do jogo e eu preciso escolher. Meu voto é nele.”
Ainda bem que “o Brasil tá vendo”.