Político fala da pré-candidatura ao governo de Santa Catarina
Sobrevivente da histórica eleição de 2018, a eleição da “onda”, após concorrer como candidato a vice-governador pelo PSDB, ao lado de Mauro Mariani (MDB), que lhes conferiu um inacreditável 3º lugar, o professor, advogado e ex-prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes nunca se afastou de fato do cenário político catarinense. Um dos primeiros a demonstrar interesse em ser candidato novamente no ano que vem, Bernardes percorre o estado para falar de sua pré-candidatura ao governo de Santa Catarina mas, dessa vez, como protagonista. Ele quer ser o cabeça da chapa. Seu atual partido, o PSD, diz que o nome será definido somente no início de 2022, mas o político não se furta em dizer que espera sim ser o nome do partido para as eleições do ano que vem.
O pré-candidato ressalta em diversos momentos da entrevista sua figura de professor e de bom gestor, ao citar convites internacionais para palestrar na sede do Banco Mundial. Se 2022 vai repetir o efeito de 2018, não se sabe. Mas um dos personagens sobreviventes daquele tsunami está de volta ao jogo. Vivíssimo.
Maga: O que o faz não desistir da política, prefeito?
Napoleão: gostei da pergunta (risos). Desde de muito cedo eu tive na política uma visão. O sonho de grande parte da gurizada de 15, 16 anos é fazer 18 anos pra fazer a carteira de motorista. Eu nessa idade tinha o sonho de fazer o título de eleitor pra poder me filiar a um partido. Nessa idade eu gostava muito de ler e gostava de praia. Eu pegava os livros da biblioteca da FURB (Universidade Regional de Blumenau) e lia na praia.
Igualdades e oportunidades
Maga: Que livros o Sr. levava?
Napoleão: ah, eu gostava de tudo um pouco. Ciência política, teoria política, economia. E com 15 anos eu era assinante da Revista Exame, que falava de economia, e dentro de um encarte da revista, uma frase me chamou atenção: Igualdades e oportunidades. Aquilo me chamou atenção. Na época quem defendia essa tese era o PSDB, eu esperei fazer 16 anos pra fazer o título, bati na porta e me filiei no PSDB. Sem padrinho político, sem nada. Eu fui com o uniforme do colégio. Falei tudo isso porque aprendi que quando a gente não sabe explicar por palavras aquilo que nos motivo a algo, é porque o nome disso é vocação. Tenho convicção e vocação. É um chamado.
Política é coisa séria
Maga: O Sr. foi o primeiro ou um dos primeiros políticos de Santa Catarina a declararem publicamente a intenção de concorrer ao governo do estado, após as eleições de 2018, da qual também participou, ficando em 3º lugar. Que avaliação o Sr. faz daquela campanha e daquela eleição?
Napoleão: aquela foi uma eleição da negação. As pessoas estavam negando a política e generalizaram. Quem tinha experiência pública não servia mais. E 2020 já mostrou uma completa mudança desse cenário, tanto que foi o ano com o maior índice de reeleição de prefeitos da história. Significa que as pessoas passaram a ver o óbvio. Em 2018 foi uma eleição “de cabo a rabo”, como as pessoas diziam, votavam sem nem saber em quem estavam votando. Se em 2020 tantos prefeitos foram reeleitos, é sinal que o eleitor passou a avaliar quem é quem. É como contratar alguém para trabalhar com a gente. Uma boa experiência não conta nessas horas? Eu penso que as pessoas estão enxergando que política não é para aventura nem para aventureiro. Política é coisa séria. Eu penso que em 2022 o eleitor vai analisar o conjunto da obra. Claro que novidade, renovação, nova visão, são bem-vindos, mas tem que mesclar com uma certa experiência pra não cair numa aventura novamente.
A derrota me oportunizou muitas coisas
Maga: qual foi o principal erro daquela campanha, se o Sr. avalia que teve algum, e que lições de 2018 levará para a próxima campanha, caso seja o candidato escolhido pelo partido?
Napoleão: aquela foi uma eleição totalmente diferente. Olhar retrospectivamente é sempre mais fácil. Quando se toma uma decisão, se toma com as circunstâncias do momento então por um lado me sinto muito honrado. Aos 35 anos eu fui candidato a vice-governador, isso é uma experiência de vida fantástica. Não é tão simples chegar a essa posição com essa idade. Caminhei Santa Catarina, fui muito bem recebido em todas as regiões. A derrota, veja que contraditório, mas a derrota me oportunizou muitas coisas. Eu não ocupei cargo em função pública, eu passei um tempo sem partido, eu consegui olhar a política de fora. Eu vinha numa carreira meteórica. Tinha sido o vereador mais votado da história de Blumenau para um vereador de primeiro mandato, o prefeito mais jovem e mais votado também da história da cidade. Fui reeleito com a maior votação de SC no segundo turno. Eu estava com 10 anos exitosos de mandato consecutivos, com votações históricas. Após a eleição de 2018 voltei a fazer exatamente o que eu fazia. Sala de aula, giz, quadro, voltei a advogar, vivi tudo que todo mundo está vivendo. Veio a pandemia, do dia pra noite, tive que aprender a dar aula on-line, ou seja, vivendo a vida real e é isso que me dá tanta segurança de disputar o governo, justamente por ter um novo olhar e eu estou muito animado e muito motivado. A derrota me oportunizou muita maturidade e aí eu consigo mesclar a visão da vida privada, pública e visão da vida real.
Convite para palestra no Banco Mundial
Maga: O governador Moisés foi um marinheiro de primeira viagem e enfrentou problemas na vida política. O Sr. também ainda nunca foi governador. O Sr. não tem receio de acabar tendo mais dificuldade para se eleger, já que as pessoas podem pensar que o Sr. ainda não tem experiência na função, como o Moisés também não tinha?
Napoleão: as situações e realidades são completamente diferentes. Estou concluindo agora meu Doutorado na área da Nova Gestão Pública: Nova governança nos novos tempos. Fui prefeito de uma das maiores cidades do Brasil e quem é prefeito lida com complexidades diárias. O prefeito é um gestor diário de crises. Guardadas as devidas proporções, eu tenho experiência no legislativo, no executivo. Quem é professor tem uma habilidade que é o jogo de cintura pra lidar com os diferentes perfis de alunos, ser professor é buscar criar pontes, conexões, então eu tenho experiência pública. Fui também reconhecido como Gestor Público do Ano pelo Conselho Federal de Administração (CFA), ou seja, foi uma gestão aprovada pelas pessoas porque eu fui reeleito com uma boa votação. Tive aprovação popular e técnica. Recentemente fui convidado pelo Banco Mundial para dar uma palestra na Sede em Washington (EUA), na abertura do Fórum de Governança Pública, então temos um reconhecimento internacional da nossa capacidade de gestão. Eu tenho muita motivação em internacionalizar Santa Catarina. Buscar investimentos não só do Brasil, mas de todo o mundo para cá. Meu sonho de visão para Santa Catarina é criar uma nova era de prosperidade para as pessoas.
Plano de governo é um contrato de trabalho
Maga: Já tem plano de governo desenhado?
Napoleão: eu tenho percorrido todas as cidades e regiões, ouvindo pessoas não só do partido mas de todos os setores. Minha tese de doutorado é neste campo da chamada paradiplomacia, ou seja, de como colocar SC em outro patamar, não só no Brasil, mas no mundo e eu tenho muita convicção de que o plano de governo é mais que isso, é um contrato de trabalho, um contrato de gestão. Tenho trabalho, lido, estudado e rodado o estado para conhecer de perto as realidades. Ao longo da caminhada pretendo construir isso junto com os catarinenses.
Maga: A definição do nome que irá concorrer de fato às eleições para governador serão definidas no início de 2022. Caso o Sr. não seja o candidato do PSD para este cargo, pretende concorrer a alguma outra vaga?
Napoleão: eu não tenho pensado nessa perspectiva ainda. A gente tem que trabalhar com o que tem à mão. Tenho sido muito estimulado no sentido da candidatura ao governo e estou trabalhando para ser o nome indicado no partido. Serei sempre um instrumento de unidade partidária. Eu sempre quero somar e não dividir. Eu sou alguém da paz, da harmonia, da soma, jamais da divisão.
Sonho grande
Maga: Pra fechar nossa conversa, que livro o Sr. gostaria de deixar como sugestão de leitura?
Napoleão: minha indicação é o livro “Sonho Grande”. Ele conta a história do pessoal da Ambev, que começaram lá atrás, cada um com seus negócios. Foram imaginando coisas que aparentavam ser impossíveis mas fizeram acontecer. Imagina que a Budweiser, empresa americana, se tornou brasileira, graças a empreendedores brasileiros, então “Sonho Grande” é nesse sentido: aquilo que parece impossível, com trabalho com meta, persistência, a gente consegue fazer acontecer.
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O livro Sonho Grande foi escrito por Cristiane Correa e conta a história dos empresários Jorge Paulo Lemann (o homem mais rico do Brasil), Marcel Telles e Beto Sicupira.