O ex-deputado federal Jorge Boeira, filiado ao PDT desde abril deste ano, pleiteia a vaga de candidato a senador, representando a Frente de Esquerda de Santa Catarina. Com passagens por partidos como PT e PP, Boeira agora trilha um caminho que pode leva-lo à disputa ao senado. Desde que encerrou seu 4º mandato como deputado federal, em 2018, o agora pedetista, viveu momentos que considera importantes para seu retorno à uma disputa, incluindo dois anos afastado da política. Ele relembra do convite recebido do senador e pré-candidato a governador do PL, Jorginho Mello, no fim do ano passado, convidando-o para ser seu vice na disputa estadual. À época, Jorge Boeira ainda estava no PP e acabou dizendo não ao colega de vida pública. O ex-deputado também contou sobre sua vontade em disputar uma eleição majoritária e da expectativa em fazer isso pelo PP. Mas esbarrou na negativa de Espiridião Amin que foi franco com o correligionário ao dizer que isso não iria acontecer. Boeira faz questão de ressaltar que tudo isso não gerou nem mágoa, nem rusgas. Fato superado.
Com a elegância que lhe é peculiar, o pretenso pré-candidato discorreu sobre sua vida pública, manteve um discurso num tom conciliador e com poucas indiretas, fez questão de destacar que não é político profissional e que está feliz com a possibilidade de ser candidato novamente.
Maga: como está a pré-campanha?
Boeira: Eu tenho vivido uns dias felizes. Essa coisa de política, de participação, de entendimento do papel que a gente faz dentro da sociedade e tal, isso é bacana. A discussão que a gente tem feito dentro daquele grupo (frente de esquerda) de forma horizontal, eu não tinha mais acompanhado isso nos últimos dez anos. Era sempre aquela coisa da verticalização. A gente podia até conversar, mas no fim tinha de acatar pois tinha alguém que decidia, então tu se sentes impotente. Tu não pode pensar além da tua bolha porque o teu limite é aquele né. “o Jorge Boeira, o limite dele é lá no sul do estado, fora, ele não pode passar”. Então isso me deixava angustiado, eu não consigo ver cercas ao meu redor, talvez seja da minha personalidade mesmo né. não consigo enxergar assim.
Maga: isso causou um certo cansaço da política por um tempo?
Boeira: Não, não, não foi esse o cansaço. Eu não fui candidato a deputado porque eu me sentia só mais um. Quatro mandatos é muita coisa. É como tu estar dizendo assim: “eu sou político profissional”. Eu sou um ser político, não resta dúvida, mas não é meu foco viver de política. Fazer qualquer coisa pra se manter no poder. Foi mais ou menos esse recado que eu tentei passar. Pra mim já estava muito cansativo, foram 16 anos, não é uma tarefa fácil. Eu não lembro, nesses 16 anos com exceção dos sábados, mas dias de semana, eu não lembro do dia que eu cheguei em casa antes das 11h da noite. Aos sábados tinha compromisso também. E as pessoas tão sempre dizendo “ah, mas tu não apareceu”. Então tem uma cobrança muito grande, da sociedade também e com razão, mas chegou um momento que eu precisava de um tempo pra mim. Paralelo a isso, minha esposa precisou de mim na empresa e eu tenho uma boa vivência em fábrica, chão de fábrica, sou fascinado por engenharia, eu sou engenheiro mesmo, eu só acho que eu dei certo na vida e na indústria, não por gostar de gestão. É que eu faço transformação, mudança. Eu não consigo fazer só o mesmo.
Espaço de poder
Sou movido a desafios. Aquele espaço pra mim, enquanto deputado, o que eu podia construir a partir daquele espaço de poder eu já tinha construído. Não foi uma tarefa fácil trazer universidade pública e gratuita, escola técnica pública e gratuita aqui para a região. Essas pautas são disputadas dentro do congresso nacional. Uma universidade federal nunca tinha saído da Ilha, por exemplo.
Então naquele espaço de poder eu já tinha feito o que eu podia. Dali pra frente eu só continuaria vivendo daquilo. Eu não vou viver daquilo, tanto é que não fiz nem a opção por me aposentar como deputado. Pra mim foi uma alegria enorme ter sido deputado federal, ter servido meu país e eu só quis demonstrar também que eu não preciso daquele recurso e não foi com essa intenção que eu fui lá para estar deputado. Aquele momento passou. Acho que consegui ficar uns dois anos afastado (da política).
Eleição majoritária
Eu sempre quis disputar uma eleição majoritária. Uma pesquisa que foi feita identificou o perfil que o eleitor queria e meu perfil atendia ao que o eleitor queria. Pensei: se meu perfil dá certo eu vou continuar. Continuei discutindo isso internamente dentro do partido Progressista, fiquei um bom tempo discutindo com o Amin. Teve um sábado de manhã que ele me chamou pra ir à casa dele, fiquei horas conversando com ele e ele foi muito honesto comigo e disse que não seria essa a condução do partido, ou seja, não seria eu o candidato. Não ficou rusga nenhuma. Nós iniciamos esse processo de discussão (na frente de esquerda) em que todos tem possibilidade. Qual é a unidade hoje? É a defesa intransigente da democracia. Nesse espaço cabem todos os democratas, não interessa se é de esquerda ou de direita. Cabem todos os democratas.
Meia dúzia de nomes
Meia de dúzia de nomes estão à disposição e quem vai decidir são os partidos, serão os presidentes dos partidos que vão decidir quem serão os candidatos. Se eu for contemplado com alguma candidatura, eu vou ficar feliz, se não for, vou participar do mesmo jeito. Um diálogo horizontal. Eu não me coloquei à disposição pra ser candidato a governador porque a grande maioria ali defende a candidatura do Lula. No PDT nós temos um candidato que é o Ciro Gomes e dificilmente nós vamos conseguir vencer essas dificuldades. Por outro lado, nós achamos que podemos estar discutindo um espaço no senado. Ficou definido então que até o dia 31 as coisas se definem. Alguém desse grupo só vai ganhar a eleição se tiver unidade. Se não tiver unidade, não chegaremos onde queremos chegar. Tem algumas teses de que os votos do Lula vai vir tudo pro PT. Não vem. No estado de SC, não vem.
Eleição da confiança
Essa é uma eleição da confiança. Aquele cidadão que conseguir transmitir confiança, porque o discurso do desemprego, da fome, todo mundo vai fazer, vai conseguir êxito. To bem feliz até aqui, do jeito que as coisas estão andando. Sei que se for candidato tem muita luta pela frente, tem muito esforço. Mas eu quero dizer pra ti que eu sou especialista em ganhar eleição perdida. Minha primeira eleição, completamente desconhecido. Passei 25 anos no chão de fábrica. Seis meses antes da eleição, me lancei candidato. Naquele momento era diferente fazer campanha. Eu fazia pequenas reuniões com seis a dez pessoas, todos os dias. Então é preciso entender o momento que tu estás vivendo. E eu vou esperar o dia 31. Claro que eu gostaria de ser (o candidato). To só esperando a bola ir pro meio do campo (risos). To bem empolgado pra essa eleição. Eu sempre quis disputar uma eleição majoritária. Mas se não for agora, eu tenho tempo ainda, tenho 66 anos. Tem tempo.