Exclusivo: Jessé Lopes fala da pré-candidatura, das polêmicas e o que espera de Daniela Reinehr

13/04/2021
Foto: Agência Alesc

Desde 2018, você deve ter ouvido repetidas vezes que “fulano foi eleito pela onda”, numa referência à onda bolsonarista que elegeu representantes de extrema direita, de norte a sul do país. Foram deputados estaduais, federais, senadores e, logicamente, o próprio presidente. Isso ocorreu pois os seguidores da ideologia de Bolsonaro, alardeavam que só assim seria possível dar governabilidade ao presidente. Se você não está familiarizado com a expressão, significa eleger o maior número possível de pessoas alinhadas ao presidente, para que este tivesse apoio quando a campanha acabasse e o “trabalho”, de fato, começasse.

Nessa leva de novos políticos, um dos eleitos foi o criciumense, Jessé Lopes (PSL), com mais de 31 mil votos.

Jessé era marinheiro de primeira viagem em eleição mas, engana-se quem pensa que ele “chegou lá” por mero acaso. A onda 17, encabeçada por Bolsonaro e endossada por tantos candidatos até então desconhecidos, descortinou também uma onda de iniciantes na política que, de inexperientes, passaram a ter mandato.
Em 2012, Jessé e Bolsonaro tinham pouco em comum. O primeiro não gostava de política. O segundo, era “o deputado maluco do Rio de Janeiro”.

Em 2018, ambos estavam eleitos numa votação histórica que deu voz à extrema direita no país e mudou completamente o jeito de fazer política no Brasil.

O discurso do deputado estadual criciumense está visivelmente mais polido e Jessé está cada dia mais à vontade na política.

Em pouco mais de 1h de conversa, o deputado falou como começou o apoio a Bolsonaro em Criciúma e como a onda, não foi tão ao acaso quanto parece. Um projeto que nasceu descreditado mas que tinha um ingrediente importante: organização.

Maga: Quando começou seu interesse por política?

Jessé: Eu não gostava de política. Eu não via ninguém que me representava. Um dia, meu irmão abriu um vídeo na internet de um político falando as coisas que eu achava que era o certo mas que eu nunca tinha visto ninguém falar. Eu me sentia meio maluco, porque já havia sido construído um preconceito contra armas, que bandido era vítima da sociedade. Quando veio o cara e falou tudo ao contrário disso aí, eu comecei a me interessar por aquele discurso. E era um vídeo do Bolsonaro. Na época, ele era candidato a presidente da Comissão dos Direitos Humanos. Nesse vídeo ele fala de cota racial, gays, presídio de Pedrinhas.

Perguntei pro meu irmão quem era e ele disse “ah, é um deputado maluco lá do RJ”, e eu comecei a pesquisar sobre ele. Na época eu comecei a segui-lo no Orkut, isso era 2011, 2012 e lá já tinha um movimentozinho de apoio para ele ser candidato a presidente. Depois ele foi pro facebook e eu demorei a querer mudar (pra outra rede), porque eu sou conservador (risos) mas aí fui.

GRUPO DO ZAP

Aí eu comecei a ajudar ele aqui em criciúma de forma espontânea, vendendo camiseta, usei essa clínica (clínica odontológica da família, localizada no centro de Criciúma) aqui pra isso. Meu primeiro ato foi um grupo no whats.

Peguei uns vídeos do Bolsonaro e mandei pros amigos. Listei 70 amigos, fiz um grupo e mandei todos os vídeos que eu tinha do Bolsonaro nesse grupo. Saiu 40% das pessoas. Os outros ficaram. E de lá a gente começou a cultuar as ideias dele. Tenho esse grupo até hoje.

Maga: Como é o nome do grupo?

Jessé: ah já mudou algumas vezes mas agora é Bolsonaro 2022. Vai mudando conforme a necessidade.
Em duas, três semanas eu já tinha visto tudo que tinha dele na internet.
Aí veio Olavo de Carvalho pq ele se aprofundava mais nos assuntos. Bolsonaro é muito superficial nas suas ideias. Ele combate o que ele acha errado mais de forma instintiva mas a questão cultural mesmo, ele não é um conhecedor, então o Olavo ajudava nesse sentido.

VAKINHA MENSAL E O EXÉRCITO DE 300

Depois eu comecei a ver que já tinha um movimento forte mas as pessoas tinham medo de ir pra rua, de botar um adesivo com o nome dele, existia um conflito grande.
Em 2016 eu comprei uns 20 adesivos dele no Mercado Livre, cada um custou quase 10 reais e colei no meu carro. Bati uma foto e botei no grupo e pensei: “vai bombar né”.
Aí falei “oh, tenho mais 19, quem chegar aqui com o carro eu colo no carro”. Não apareceu ninguém.

Tentei encorajar mas não deu certo. Aí tive que pensar numa outra estratégia.
Mandei fazer camisetas. Aí todo mundo queria a camiseta (escrito Bolsonaro presidente 2018).
Mas aí eu fiz diferente. Fiz um churrasco onde todo mundo tinha que ir de camiseta.

Esse foi o ponto de partida. Fazia a preço de custo. Até 2018 vendemos mais de 1000 camisetas. Depois a gente fez a vakinha e tinha quase 300 pessoas que mensalmente vinham aqui (na clínica) pagar. Davam seus 15, 20, 30 reais de contribuição mensalmente. A gente tinha uma lista e quem não pagava era cobrado pelos outros. (O valor arrecadado) era para colocar os outdoors e manter. Acho que tudo isso me tornou uma espécie de liderança porque eu fui o primeiro, eu que tive a coragem. O momento era complicado de tentar impor esse tipo de ideia porque não era aceito na sociedade.

LUCAS ESMERALDINO

Quando o Lucas Esmeraldino se tornou presidente (do PSL), aí quando teve que botar alguém aqui, lembraram do meu nome. Ele veio me convidar pra ser candidato e eu não aceitei mas eu queria ser presidente do partido, pra mim era um orgulho ser o presidente do partido do Bolsonaro. No começo, eu me filiei quando ele (Bolsonaro) foi pro PSC. Depois ele foi pro Patriotas, eu fui também. Depois ele foi pro PSL, eu também. O partido até convidou algumas figuras conhecidas pra ser o candidato a deputado estadual, tipo o Kennedy (deputado estadual), mas ninguém acreditou no projeto do Bolsonaro. Os caras riam da gente, riam do Lucas Esmeraldino. Aí surgiu a ideia do nome do Daniel Freitas que queria ser deputado estadual (estava numa briga com o PP pra ser o candidato – na época, Freitas ainda estava no PP).  Aí o pai (Júlio Lopes) chamou o Daniel aqui, numa reunião aqui nessa sala. E o meu nome surgiu porque o Daniel começou a me incentivar. Tinha outros nomes mas todos sem “expressão política”, igual eu, niguém tinha experiência. Aí quando o Daniel veio pra ser candidato a deputado federal, nós já tínhamos um médico que seria o candidato a deputado federal, e aí pra convencer esse cara a ser candidato estadual e o Daniel a federal, não foi fácil, tanto é que não conseguimos. E era pra ser isso. E eu falava (pra esse cara): “vai, tu vai ganhar” mas não conseguimos.

Aí a decisão do Daniel ir a federal, incomodou esse médico que saiu e foi pro Patriota e o Daniel começou a me incentivar a ir pra estadual. Chamei um pessoal aqui nessa sala e falei assim: “se alguém de vocês bater o pé (contrário), eu não vou”. E todos eles entenderam e apoiaram.

Pensei: “agora sou candidato, o que que eu vou fazer?” (risos)
Mas a minha ideia era ajudar o Bolsonaro, não era me eleger.

Maga: naquele momento, o Sr. imaginava que poderia de fato ser eleito?
Jessé: não, nem passava pela minha cabeça.

Maga: quando saiu o resultado da eleição foi um susto então?
Jessé: não, nem tanto porque aí teve um processo.

Nesse primeiro momento eu pensava “beleza, vou fazer campanha pro Bolsonaro”, é uma forma de eu levar o nome dele. Eu ia nas lojas pedir voto e fazia campanha pro Bolsonaro, não fazia campanha pra mim. No começo, se a pessoa dizia: “ah não vou votar no Bolsonaro”, eu dizia: “ah então não vota em mim também. Já que vai jogar no lixo o papelzinho então me dá aqui.” Só que aquilo foi pegando. E a minha principal proposta era de recusar os privilégios e chegou uma hora que eu comecei a ir nos lugares e aa pessoas diziam que iam votar em mim.

Maga: a campanha foi mais pelas redes sociais e whatsapp?
Jessé: não, foi a pé, loja em loja. Meu maior investimento foi em flyer, em rede social eu gastei mil reais e pouquinho. Eu tinha uma rede social muito fraca. Não dava nem pra contar.
Concentramos a campanha em Criciúma, mas eu pedi voto na Amesc, na Amrec e na Amurel. Presencial.

Maga: e na reta final se a pessoa não queria votar no Bolsonaro mas queria votar no Sr?
Jessé: Aí a gente já tava conversando (risos).
Eu não entrava mais com esse discurso. Se a pessoa não ia votar no Bolsonaro, no começo eu era mais brucutu. Fui convencido a ser mais maleável nesse sentido e começou a dar certo, começou a pegar o nome. Começou aquele negócio de “é 17 de cabo a rabo”. Aí a gente “po, é só entrega o panfleto”.

Maga: antes do dia da eleição, imaginou que já estava eleito?
Jessé: não, foi no dia. A gente foi visitar os locais de votação e quando cheguei no Colégio São Bento o Ronaldo Benedet falou “tu vai fazer 40 mil votos”. Daí a gente riu. Antes disso o Upiara (jornalista e analista político, à época, na NSC) fez uma perspectiva dos que seriam eleitos e colocou meu nome e a gente ficou faceiro, isso faltava uma semana pra eleição. Eu nunca fui nada, como que pode ele me conhecer, mas ele botou lá “dentista lá de criciúma”, e aquilo ali motivou.

A nossa expectativa era que ia entrar três deputados estaduais e eu iria lutar pela 3ª vaga, com 12, 15 mil votos. Aí o Benedet falou: “eu já falei pro Vampiro (deputado estadual Luiz Fernando Cardoso, MDB), o Jessé vai fazer mais votos que tu.”

Mas eu não acreditei muito. Papo de político.
E de fato quando começou sair o resultado, era uma diferença grande e eu comecei a ficar nervoso. A gente começou a escutar as rádios. Teve uma que nem falava meu nome.

Faltando 2% das urnas pra apurar, o Adelor Lessa começou a ligar pros eleitos e daqui a pouco ele me liga. Aí eu falei “pois é tamo aí, tamo esperando, falta 2%” e ele: “não, mas tu já está eleito.”

Foi uma festa lá em casa. Deu um nervosismo, porque nunca imaginava ser político.

MÁQUINAS DE CAFÉ

Maga: e as máquinas de café?
Jessé: minha primeira ação foi tirar as maquinas de café porque aquilo ali era um absurdo o valor mensal. Fizemos uma brincadeira, colocamos umas fitas lá de interditado e “explodiu”. No outro dia todo mundo estava cobrando os outros deputados pra fazerem o mesmo.

Maga: o Sr. sabia que essas ações ganhariam esse destaque?
Jessé: Sabia. Porque eu vinha de um meio em que as pessoas criticavam muito esses privilégios.

Antes, na Alesc, os gastos com saúde eram ilimitados. Teve aquele caso do deputado que gastou 6 milhões, as pessoas não gostam de criticar pela situação, mas quantas pessoas estão ai na rua, na mesma situação e não tem esse privilégio. Depois isso foi cortado esse auxílio ilimitado na saúde. Hoje tem um plano de saúde que é muito bom também, mas que eu também não pego. Foi engraçado porque o que eu fazia, o Vampiro fazia (risos).

Nunca fui pro plenário exigir que os outros não usassem, não preciso me indispor dessa forma, mas naturalmente isso causou muita discórdia no começo. Porque eles eram cobrados.

Maga: quais deputados não usam verbas de gabinete?
Jessé: o Bruno Souza (Novo). Os outros usam, uns mais outros menos.

Maga: Sempre que o Sr fala da economia do seu gabinete, o Sr é cobrado pelas ações do seu mandato, ou seja, não basta economizar, tem que mostrar resultado. Se o seu mandato acabasse hoje, o que considera seu maior legado deixado para Santa Catarina?
Jessé: primeira coisa que precisa levar em conta é qual é a função de um deputado. Porque muitas vezes as pessoas pensam que deputado tem que entregar obra e isso não é verdade. Eles enganam as pessoas. Na verdade quem entrega obra é o governo executivo, é ele que tem dinheiro pra isso. O que o deputado pode fazer são as emendas, mas que é o governo que paga. Porém, de acordo com a lei, a gente consegue impor essa verba e destinar para determinados lugares, qual porcentagem daquele valor tem que ir pra cada setor, pra qual instituição, a gente pode destinar.

Não sou muito a favor das emendas impositivas, mas eu faço porque já que ta ali, a gente pode contribuir. Se tu olhar na pratica, ortodoxa, pragmática, do que é legislar, e tu pegar eu que gasto pouco e outro que gasta muito, é capaz de tu ver que eu produzo mais que esse cara.

As vezes ele faz mais leis, mas tem que ver a qualidade dessas leis que mais atrapalham do ajudam, mais pra fazer currículo.

A mídia atrapalhou nesse sentido. Lá no começo, com 3 ou 4 meses de mandato, fizeram um ranking de quem tinha protocolado mais projetos. Eu lembro que o Felipe Estevão ficava atrás de mim no ranking. Eu tinha protocolado 2 ou 3. Depois disso ele foi lá pra cima porque pegou qualquer coisa e protocolou. Pode ser até provado, mas qual foi o ganho pra Santa Catarina de fato?

Os meus são poucos, mas se aprovados, mudam alguma coisa na vida das pessoas.

Maga: dá um exemplo de um projeto seu?
Jessé: o único que chegou lá pra ser aprovado e não foi, foi o fim do recesso parlamentar no meio do ano. Exames toxicológicos para universidades públicas, vai mudar. Projeto aprovado.

Tem um que é aprovação do uso de EPI pra agentes socioeducativos, como spray de pimenta, bastão. Esse passou mas o governador não sancionou. Deve voltar pra gente derrubar esse veto porque foi aprovado por unanimidade.

Tem também uma PEC que inibe o debate sobre identidade de gênero das escolas. Fiz uma emenda na Constituição do Estado, tirando a expressão “identidade de gênero” e falando exatamente o que pode ser ensinado em sala de aula, que são métodos contraceptivos, sistema reprodutor e doenças sexualmente transmissíveis.

Maga: no seu site diz que a tua missão é resgatar o conservadorismo na política e na cultura. O que isso significa na prática?
Jessé: os princípios conservadores são a liberdade individual, direito à propriedade privada e direito a vida. Esses são os pilares conservadores. Pra conseguir desconstruir uma sociedade que tem esses princípios, querer implantar um socialismo aqui, as pessoas não vão querer, porque elas tem como base esses princípios. O socialismo é contra esses três princípios, ele não respeita a vida, não respeita a vida embrionária e não respeitam a propriedade privada. O próprio Karl Marx diz que tem que expropriar os meios de produção. Tudo tem que ser do estado, como é na China.

Hoje não tem clima pra fazer revolução armada, então precisa ser através da cultura. Isso é Gramsci (filósofo Antonio Gramsci que atribuía às escolas a função de dar acesso à cultura).
Hoje escolas e universidades estão tomadas de pessoas trabalhando nesse sentido. Um exemplo claro foi o que aconteceu que eu denunciei um professor que estava mentindo em sala de sala.
Gransmci diz: “Não tomem quarteis. Tomem escolas.” Porque ali é a base.

Então quando eu digo que eu vou defender, é isso que eu to fazendo. É resgatar o que foi perdido.

Antes, falar que bandido tem que morrer era um absurdo. Hoje tu fala, as pessoas não te criticam mais por isso. Então isso já foi uma conquista. Tratar bandido como vítima da sociedade. Porque que se fala isso?  Porque eles entendem que o bandido é vítima do capitalismo, vítima da sociedade. E na verdade não é.

Enquanto tiver na favela 95% na mesma condição do bandido que não vão pro crime, mesmo estando na mesma condição, a gente já vê que é uma questão de índole. Não to dizendo que essas pessoas tem que tá lá, e que eles não tem que tentar mudar e o estado não deve intervir. Mas isso não é motivo pra ser bandido e traficante. É claro que o meio influencia, mas bandido é bandido.

Maga: o Sr será candidato em 2022?
Jessé: Sou pré-candidato em 2022, com certeza, pra renovar minha cadeira como deputado estadual, não tenho outro projeto por enquanto.

Maga: das polêmicas que o Sr. contabiliza no currículo, tem alguma da qual se arrepende?
Jessé: a polemica é muito peculiar. Pra mim não é polêmica. Eu falo o que eu acho, quem faz a polemica são as pessoas. Quando eu falo uma coisa, eu realmente estou acreditando naquilo. Não falo pra criar uma polêmica.

Só teve uma que eu errei, e me retratei, que foi aquela questão do governador (sobre o suposto envolvimento com a secretaria. (Fato desmentido pelo próprio governador). Eu recebi num grupo, várias fotos e áudio, só que ninguém deu nome aos bois, aí foi o idiota aqui e falou. Eu errei. Quando eu vi o erro eu apaguei o tuíte. Tentei fazer uma brincadeira com o caso dos respiradores, mas deu tudo errado, não deu nada certo. Mas não era verdade, era um boato, e por isso eu me arrependi e pedi desculpas. Não sou orgulhoso. Sou teimoso e intransigente naquilo que eu acredito, mas assim, se eu errar, não me custo a pedir desculpas.

E tudo isso também vai nos amadurecendo como político, na forma como tratar, na forma como falar. Na própria campanha eu amadureci do início até o final, e assim a gente vai levando.

Maga: e a ponte Hercílio Luz, ainda quer derrubar?
Jessé: ah, agora já ta pronta né? Na época que eu falei já era o segundo aditivo e a ponte não ficava pronta, e quando eu vi achei que ia ser mais 4 anos de lenga lenga, falei numa entrevista “porque não implode isso aí?”, e virou polêmica.

Maga: na campanha de 2018 o Sr. fez campanha pro Governador Moisés. Quando foi que ocorreu a ruptura entre vocês? Foi quando ele recebeu o MST no gabinete?
Jessé: foi uma série de fatores. Eu não consigo ver as coisas erradas e guardar pra mim. Então quando o Moisés entrou sem saber o que que era direita nem esquerda, na verdade colocaram ele, foi o Lucas Esmeraldino que decidiu que seria ele  no último dia da convenção do partido. Não tinha ninguém, foi ele. Ai todo mundo falava “ah, é o Moisés, é o coronel, o comandante”. Abraçou todo mundo, fazia arminha, deu certo.

Aí ele chegou lá e começou a fazer o governo republicano que ele falava. Nossa, eu odiava quando ele falava isso. A gente não foi eleito pra fazer governo republicano e sim um governo radical de direita, vamos aproveitar a oportunidade, quando é que a gente via ter outra?

Ele começou a fazer só nomeação técnica. Mas porque não nomeava nome técnico do nosso lado, pessoal do PSL? Podia aproveitar esses caras.

Cada vez que ele botava um nome ruim eu criticava. Ai vinha o Douglas e dizia “o, Jessé, segura aí”. Eu dizia: “mas, pô, vocês botar a Edenice que fez campanha pra Marina Silva?”. Edenice é competente, uma querida, mas pô?

Aí depois ele assinou a agenda 2030 da ONU, que é uma agenda globalista, Marxista, pra quem não sabe. Marx idealizava um mundo sem fronteira, sem estado, governado pelo proletariado, uma coisa utópica. E a agenda globalista é a mesma coisa.
Então ele assinou essa agenda, se comprometendo, mas depois ele tirou, depois que a gente explicou.

Mas o que bateu o martelo foi quando Bolsonaro queria ampliação dos insumos agrícolas, e o governador queria taxar os insumos. Aí foi a primeira pegada forte.
Nessa mesma semana, saiu a entrevista dele na Folha de São Paulo, dizendo que  fazer arminha na internet era extremismo e sandice.
Aí botei o quadro com a foto dele no cantinho do gabinete, de castigo. Aí alguém bateu uma foto e no outro dia tava na coluna do  Moacir pereira. E aí rompeu.

Ele nunca me ligou pra nada, eu nunca liguei pra ele.

O POLÍTICO TEM MEDO DO POVO

Ele tentava fazer no início um governo que eu até concordo com ele, um governo sem caminhar junto com a Alesc. Ele estava tentando fazer o certo. Só que ele fez o certo de forma errada. Se tu quer controle total, sem Alesc, tu tens que ter apoio popular muito grande. O político tem medo do povo porque o povo vota. Então se tu tem apoio popular e algum político (deputado) está te travando, o próprio povo te ajuda. É o único meio que tem de fazer um governo sem compor com deputado. Só que ele menosprezou quem trabalhou pra ele e colocou pessoas de outros partidos.

Ele perdeu liderança. Ele entrou na onda. Eu ajudei a construir o negócio.
Aí o Marcelo Brigadeiro iria compor com ele, ser o vice em 2018, mas o Moisés queria que fosse uma mulher pra quebrar essa coisa de machismo e tal, aí foi onde entrou a Daniela.

Mas eu rompi foi ali. Ele falava né, “o Jessé queria explodir a ponte, então agora explodiu a ponte” (sobre a nossa ligação). Aí no impeachment ele tentou se aproximar, mas eu não aceitei.

Na pandemia ele desdenhou do Bolsonaro, depois apoiou o Moro, nas queimadas, em vez de apoiar o presidente, ele mandou bombeiros pra ajudar a apagar os incêndios. Então assim, foi desastroso. É um jogo de narrativas, tinha que tentar ajudar o Bolsonaro.

Maga: na Alesc, os deputados acreditam que ele é culpado pelo desvio dos 33 milhões?
Jessé: Tá indefinido. A Daniela precisa construir mais um ou dois votos pra garantir.

Maga: e como é a Daniela nesse sentido?
Jessé: o governo é feito de assessores, não se trabalha sozinho. Eu falei pra ela: “Daniela, tu tens que fazer diferente do Moisés, tens que mostrar ser diferente dele, senão ele volta.”

Maga: e ela está conseguindo fazer diferente dele?
Jessé: ainda não mostrou 100%, não teve nenhuma decisão dela que “oh, agora sim”. A orientação dela na pandemia vai ser pela flexibilização de horário, tratamento precoce, já é alguma coisa diferente.

Maga: quais projetos o Sr. espera aprovar na gestão dela?
Jessé: O projeto dos sócioeducativos. Tem que ter coragem, igual nesse projeto dos exames toxicológicos, ela não precisa nem passar pela Alesc, ela mesma pode introduzir na Udesc, se ela quiser, mas acho que ela não quer se indispor com ninguém no momento.

Maga: e não se indispor não é um perigo?
Jessé: é uma faca de dois gumes. É que agora ela não está construindo votos populares e sim votos políticos. É um jogo de xadrez. Ela tem que agradar político e também o público dela.

Político a gente sabe o que quer. Ele quer compor o governo. Quer uma benesse, uma secretaria, uma obra. Essa é a arma que eles tem. Agora nesse momento é sobreviver no governo, ficar e o Moisés cair e depois pensar num governo mais alinhado aquilo que a gente espera dela.

Maga: se o Sr. fosse governador, o que faria diferente na pandemia?
Jessé: é difícil naquele momento, definir (Jessé se refere ao início da pandemia), mas hoje, vendo tudo que aconteceu, num primeiro momento achei importante fechar tudo. Muitas pessoas saem de casa cedo, voltam tarde, vão dormir sem saber o que tá acontecendo. Então aquele fechamento de 15 dias no começo da pandemia, foi acertado, para as pessoas entenderem o que estava acontecendo. Mas deveria ter avisado antes para as pessoas se organizarem e não avisar na terça e fechar na quarta. Bastante orientação sobre o distanciamento, uso de máscara (não na rua, mas em local fechado, sim). Foi errado impedir as pessoas de praticar esportes, porque isso ajuda na imunidade. Fazer uma restrição de acordo com o que é viável. A capacidade de um restaurante com 60 mesas é diferente de um que tem 10 mesas. E se mandar fechar, tem que subsidiar. Não sou a favor de subsídio, mas se tu quer que o cara pare de trabalhar, tem que subsidiar. Se tu não pode subsidiar, não pode mandar fechar. O tratamento precoce são medicamentos inofensivos, não matam ninguém.

Maga: o Sr. está falando de quais medicamentos?
Jessé: de qualquer um. Ivermectina, é um remédio pra vermes, que se tu tomar não vai fazer mal algum, não vai morrer. Tem relatos de quem estava se sentindo mal, tomou e no outro dia estava melhor. Pode ser psicológico, mas tá ajudando, né? Então acho que deveria ser instituído (o tratamento precoce), eu faria isso. Por exemplo, em Rancho Queimado, tá desde o ano passado só com duas mortes. Inclusive todos se tratando sem precisar de UTI. Então o tratamento não impede de pegar o vírus mas ele te dá uma resistência melhor porque ele atua na célula, o vírus não consegue proliferar.

Politizaram o medicamento. Na minha opinião, se der certo, a conquista disso é mérito do Bolsonaro. Então a oposição não quer que o presidente tenha o mérito disso. Essa polarização é desnecessária, matou gente. Outra coisa que eu não faria e é até difícil criticar por que não se tinha esse entendimento, foi falar para as pessoas ficarem em casa até sentir sintomas mais graves, isso também matou muita gente. Lá em março, abril do ano passado eu dizia: um dia nós vamos olhar pra trás e ver que nós erramos muito. Dito e feito. Mas aquilo que eu acreditava, eu acertei quase 90%. Como diz o Bolsonaro “não errei nenhuma”.

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