“Eu estou há 1 ano e meio trabalhando, faltam 14 meses pra chegar a eleição e o pau vai pegar”, dispara o pré-candidato Márcio Búrigo

01/07/2021

“Quando se faz a chamada no senado, os senadores não sabem quando devem responder “presente” ou “inocente”. Theodore Roosevelt.

Se o ex-prefeiro Márcio Búrigo precisasse responder a chamada de Teddy Roosevelt, (Presidente dos EUA de 1901 a 1909), ele poderia dizer: inocente. Ou, pelo menos, diria: contas aprovadas.

A votação que aprovou as contas da prefeitura de Criciúma, referentes ao ano de 2016 teve um placar tranquilo. Foram 14 votos contra 3, pela aprovação. Com isso, o ex-prefeito de Criciúma, Márcio Búrigo (PL), pode dar o caso por encerrado e concentrar-se apenas na pré-campanha para deputado estadual de 2022.

Havia um clima favorável à aprovação desde que o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina emitiu o parecer pela reprovação. Mesmo assim, após a votação na Câmara de Vereadores de Criciúma, o assunto está oficialmente encerrado. Entre os três parlamentares que votaram pela reprovação, estão o vereador Nícola Martins, Arleu da Silveira e Julio Kaminski.

Márcio Búrigo foi prefeito de Criciúma entre 2013 e 2016. À época, Búrigo era filiado ao PP. Em 2012, ele foi candidato a vice-prefeito, na chapa com Clésio Salvaro (que acabou sendo barrado pela lei da Ficha Limpa). Por isso, ocorreram novas eleições, em março de 2013, dando a Marcio Búrigo o título de prefeito de Criciúma. Tudo isso sob a coordenação de Salvaro que foi seu coordenador de campanha, transferindo ao, até então vice, seu potencial de votos. A tática funcionou e Búrigo foi eleito com 72% dos votos. Com o mandato em curso, surgiram algumas divergências entre os dois líderes políticos. Mas, pelo visto, assim como as contas de 2016, as divergências também ficaram no passado.

Confira na entrevista.

Maga: que avaliação o Sr. faz das manifestações dos vereadores quanto ao parecer do Tribunal de Contas na sessão desta terça?

Márcio: olha, as declarações daqueles que querem me enfrentar nas urnas no ano que vem, eu compreendi claramente, mas nada disso me interessava. O que me interessava era o grande espírito público que foi apresentado pelos outros 14 vereadores que votaram contra o Tribunal de Contas. Essas contas precisam ser analisadas por dois ângulos e o TC faz uma análise fria dos fatos contábeis que chegam para eles. Não há uma busca, uma interpretação de fatos adversos que possam ter acontecido durante o processo de administração.

Maga: por exemplo?

Márcio: nós tivemos sequestros das contas do município durante o meu mandato de quase R$ 40 milhões de reais para pagamento de precatórios pela Justiça. Esses precatórios são dívidas da prefeitura de mais de 30 anos e eu levei o azar da justiça fazer isso no meu mandato, de sacar esse valor da conta da prefeitura. Da mesma forma levaram R$ 18 milhões para o CriciúmaPrev. Uma dívida que vem lá de trás. Eu fui o prefeito que mais pagou o CriciumaPrev, foram R$ 74 milhões. Mesmo assim, por causa dos outros que não pagaram, eu tive um sequestro de quase R$ 18 milhões nas contas da prefeitura. E outros fatos, como o incêndio no prédio da prefeitura, a mudança, nós tivemos que mudar para vários lugares. Eu fui obrigado a demitir mil funcionários e fazer concurso pra readmitir esse pessoal, e esse valor fez uma falta enorme pois eram pessoas experientes, tinha funcionário com mais de 25 anos de prefeitura. Então esses fatos adversos não foram considerados pelo TC. Eu podia ter tomado medidas mais restritivas no último ano. Por exemplo, o município tem obrigação de investir 15% da sua arrecadação em saúde. Eu investi 33% e isso deu exatamente R$ 80 milhões. Nós temos obrigação de investir 25% do orçamento em educação. Nós investimos 33%. Eu não economizei mesmo, em relação ao social, à educação, a ordem era fazer o melhor. Durante a nossa administração nós tivemos o menor índice de mortalidade infantil da história do município. Então hoje as pessoas sentem saudade daquela Secretaria de Saúde que a gente tinha, com filas quase zeradas. E isso tudo foi explicado aos senhores vereadores, um por um, eu falei com todos eles. Explicando que o TC faz uma análise contabil, e que no caso dessas contas de 2016 precisava dar uma ampliada e levar em conta os fatos diversos que aconteceram fora do meu governo mas que sobrou pro meu governo pagar.

O Tribunal poderia aprovar com restrições mas eles não fizeram isso. Então foi isso. Eu consegui transmitir aos vereadores o meu sentimento republicano. Eu não podia parar a saúde e a educação pra fazer economia pra fechar as contas. O débito que ficou foi de R$ 100 milhões, mas pra um orçamento de R$ 1 bilhão de reais por ano, não é nada. Eu sou empresário, acha que não sei o que estou dizendo?! E o fator mais importante disso é que não tem roubo, não tem desvio, não tem dolo, não tem nada de errado durante o tempo que estive na prefeitura e isso deveria ter sido considerado pelo TC.

Maga: o Sr. disse que conversou com os vereadores. E com o prefeito Clésio Salvaro, o Sr. também conversou?

Márcio: conversei com o prefeito, e também com vários empresários.  Na última conversa que tive com ele, estava o ex-prefeito Anderlei Antonelli, o Dr. Flavio Spillere, pessoas que tinham esse sentimento de compreensão de que nem eu, nem a cidade merecíamos isso. Na mesma situação que ficou criciúma, ficou Florianópolis e Blumenau em 2016, mas lá foram aprovadas as contas.]

O Clésio e eu

Maga: e como tá a relação do Sr. com o Prefeito Clésio Salvaro?

Márcio: a verdade é que tem muita lenda nessa relação que eu o Clésio somos divergentes. O Clésio é muito mais experimentado na política do que eu, embora eu não seja nenhum principiante. Mas esse é um assunto (o das contas) que merece o respeito do sentimento republicano da administração de todos porque o presidente da câmara pode cair nisso, o secretário de governo também, muita gente que pode cair nesses processos. Enquanto não se tratar de roubo, escândalo, desvio, nós políticos temos que dar uma blindada nisso, porque o TC também é uma entidade política, senão eles vão caçando os prefeitos. Por isso que primeiro é analisado no Tribunal e depois vem pra Câmara. Se lá teve algum voto político, aqui dá pra corrigir. No meu caso entenderam que não cumpri a lei e não aceitaram a nossa argumentação.

E a minha relação com o Clésio, é normal, me dou bem com ele, às vezes nos encontramos em eventos, a gente se cumprimenta. Essa questão de divergências é mais do baixo clero do partido, que fazem essa futrica toda, porque eu e ele temos uma relação republicana, educada. E ele me chamou lá pra gente conversar sobre isso. Ele disse que ia pedir aos vereadores do partido dele que votassem a favor da aprovação das contas, e ele fez isso. Só não conseguiu dois votos no partido dele que foi do Arleu (da Silveira) e do Nícola (Martins).

Márcio Búrigo e Clésio Salvaro cortam o bolo de aniversário de Criciúma, em 2016. Foto: Denis Luciano

Maga: quem o Sr. considera que possa ser seu principal adversário como candidato (a) a deputado (a) estadual no próximo ano? O Sr. já tem essa avaliação?

Márcio: as candidaturas a deputado estadual melhoraram muito (referindo-se aos nomes que estão surgindo agora, em comparação aos que foram candidatos em 2018). Com essa intenção que o deputado (Luiz Fernando) Vampiro tem de não ser mais candidato a deputado estadual, a intenção da Deputada Ada De Luca também não tem mais interesse em disputar, o Dóia também me parece que não será mais candidato a estadual. O Ricardo Guidi que é deputado federal, não vem pra estadual. Pra mim eu acho que ficou mais aberto, principalmente aqui na área central onde é mais meu forte. Mas é difícil apontar um adversário porque as candidaturas vão se consolidando lá na frente. Eu não sei quem vai mesmo ser candidato ou não. Tem tanta sigla partidária. Hoje não tem mais coligação então, cada partido vai ter que ir atrás de candidato pra tentar eleger um deputado pelo menos. Eu peguei o PL estava abandonado na mão do Nícola (Martins). Ele só estava cuidando da eleição dele a vereador. O Jorginho Mello fez um apelo para que eu viesse pro partido e perguntou o que eu queria e eu disse não queria nada, só queria ser candidato a deputado estadual, queria ser o único aqui do Sul pelo PL. Eu quero essa garantia, pelo menos na Amrec e Amesc. Na Amurel pode botar candidato, mas aqui pra baixo (sul) não. Eu acho que isso vai acontecer.

Peguei o partido esfacelado, tinha um vice-prefeito, meia dúzia de vereadores aí. Hoje nós temos 40 vereadores, 2 prefeitos eleitos, 5 vice-prefeitos. Eu tenho uma estrutura política que remanesce de quando fui prefeito. tenho vários vereadores do PP que vão estar na minha campanha. Eu estou há 1 ano e meio trabalhando, faltam 14 meses pra chegar na eleição o pau vai pegar. Daqui pra frente, não paro mais.

Foto: Clic RBS
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