Décio Lima: “Não estamos fazendo palanque pro Lula e pro Ciro. O grande palanque de Santa Catarina tem nome, chama-se Lula.”

06/04/2022

Filiado nº 2 do Partido dos Trabalhadores de Santa Catarina, como fez questão de frisar, atual presidente estadual do partido e deputado federal por três mandatos, Décio Lima deve ser o candidato a governador pela Frente de Esquerda aqui no estado. Cuidadoso com as palavras, Lima relembrou, inclusive, as eleições de 2018, quando chegou a liderar as pesquisas no início da corrida eleitoral. A chapa majoritária ainda não está completamente definida pois existem alguns nomes que ainda precisam ser acomodados nessa carruagem. De todo modo, o pré-candidato e amigo do ex-presidente Lula, concedeu entrevista para falar sobre as definições que devem ocorrer ainda neste mês de abril. Ciente que, da mesma forma que em 2018 o eleitor saiu de casa para votar 17, em 2022, o fenômeno pode se repetir só que, dessa vez, para votar 13, Décio Lima quer ser o rosto do 13 na urna quando o catarinense for escolher o seu futuro governador.

Maga: Como estão as tratativas na Frente de Esquerda?

Décio: “Tamo aí na luta, essa palavra vibrante que abate os fracos e exalta os fortes”. Pra quem passou um calvário de resistência como nós, que disputamos as eleições inclusive em 2018, num compromisso de causa, sozinhos, isolados, naquele momento, com a condição do Lula ser declarado inelegível e preso, eu não posso deixar de dizer que o momento que estamos vivendo é histórico para esse campo a que nós pertencemos. É histórico porque, primeiro, nunca nos 42 anos de democracia dos quais eu tive a oportunidade de viver intensamente, de quem foi candidato a deputado estadual na eleição de 82 e que acompanhou toda essa construção democrática do Brasil depois do Regime Militar, essa geração a que eu pertenço e quem é o filiado nº 2 do PT em Santa Catarina – eu sou da juventude da época do PT – nós nunca tivemos uma aglutinação política de expressão como essa agora que nós consolidamos, chamada Frente Democrática, com oito partidos. Dos sete candidatos que disputaram o governo do estado em 2018, praticamente cinco já estão aqui comigo. O Gelson Merísio, o Rogério Portanova, o Leonel Camasão, com a possibilidade de se somar a nós o Mauro Mariani também. Isso representa 70% do resultado das eleições de primeiro turno em 2018. O momento pra nós é gratificante, não é surreal dizer que podemos estar no 2º turno, se considerarmos que eu cheguei a liderar as pesquisas em 2018. Vamos ter 30% de horário de TV e rádio, então estamos muito animados com a possibilidade de irmos pro segundo turno e ganharmos as eleições aqui no estado pela primeira vez. Nós não estamos pra marcar posição. Nós estamos com a profunda clareza de que nós somos uma possibilidade real.

“Aqui não se fala mal do Lula e da Dilma”

Maga: quem a Frente de Esquerda irá apoiar em SC: Lula ou Ciro?

Décio: esse foi o primeiro problema colocado à mesa, há mais de um ano. “Como vai ser essa relação PT x PDT?”. Por incrível que pareça, esse é um problema 100% superado. Cada um cuida do seu quadrado nesse quesito. Quando o Ciro Gomes veio a SC (em outubro de 2021), o PDT foi reto com ele: “Aqui não se fala mal do Lula e da Dilma. Se você falar mal deles aqui, nós vamos nos levantar da mesa”. Então o mesmo se refere a nossa militância ter qualquer postura negativa com relação aos companheiros e companheiras do PDT. O ex-ministro Manoel Dias tem sido um gigante nesse quesito de garantia a aglutinação. Pela experiência que ele tem, pelo sentimento brizolista muito forte nele, isso dá a ele uma extraordinária conduta e compreensão clara, já que ele viveu a história e que esse momento não momento de divisão e sim de termos a pauta da democracia como um valor universal entre nós. Essa frente não é esquerda, ela é uma frente democrática, porque foi criada pensando na defesa da democracia e do estado de direito.

Sandálias da humildade

Nós não temos o direito ao luxo das nossas diferenças. Sempre tivemos. Mas agora não é o momento. Nós temos uma conduta entre nós de profundo respeito. Meu compromisso era tirar o PT do isolamento. O partido vinha a muito tempo sozinho, com muita soberba, então a gente foi agasalhado das sandálias da humildade e construiu uma relação humana.

Maga: tantos partidos juntos não pode acabar interferindo ou gerando alguma divisão na Frente?

Décio: acho muito difícil porque a conversa com todo mundo é olho no olho, não tem espaço para a soberba, para a vaidade humana, de um ser melhor que o outro, nós vamos com trabalhar com inteligência. Os nomes que estão colocados até pra chapa majoritária não são nomes pequenos. Merísio ganhou as eleições no primeiro turno em SC. O senador Dário Berger, o Jorge Boeira pelo que representa da geopolítica, inclusive num setor importante que é o setor produtivo, o Afranio Boppré que já foi prefeito de Florianópolis, o próprio Fernando Coruja, todas figuras de expressão em Santa Catarina. Entretanto, nós temos aqui uma coisa muito clara, esse lado do rio não pode fracionar porque aí todos nós ficamos pequenos.

O grande palanque

O grande palanque de Santa Catarina tem nome, chama-se Lula e, claro, agregando à porcentagem de Ciro Gomes. Nossa grande tarefa é subir no palanque do Lula. Não estamos fazendo palanque pro Lula e pro Ciro. Nós temos que subir no palanque deles. Os dois juntos são 40% hoje e nós achamos que esses números vão melhorar. Estamos otimistas que Lula pode ganhar as eleições em SC.

Terceira Via

O povo não quer um futuro incerto e por isso a terceira via não decolou de jeito nenhum. O povo tá abominando o presente. É difícil fazer fake news pra admitir o valor do preço da gasolina na bomba. O Brasil entregava no mercado 3.8 milhões de carros novos por ano, hoje entrega 1.7 milhão. Então o povo está abominando o presente e com saudade do passado e esse passado tem um nome e chama-se Lula.

Maga: o Sr. acredita que a gestão da pandemia no Brasil pode ter prejudicado a reeleição do atual presidente e favorecido o ressurgimento do PT?

Décio: acho que mostrou a diferença entre quem sempre teve cuidado com a vida, quem nunca desprezou a vida dos brasileiros, com programas sociais como Minha Casa, Minha Vida, programa Fome Zero, acho que mostrou quem tem desprezo pela vida. Bolsonaro representa o que nós chamamos de neoliberalismo, com o Estado pequeno, onde o mercado seja predominante. A pandemia mostrou o contrário. Eu fui prefeito de Blumenau por 8 anos, aprendi isso. Todas as obras são importantes, mas as mais importantes são as obras humanas.

A pergunta que tira o sono

Maga: quem será o cabeça de chapa: Décio Lima ou Dário Berger?

Décio: essa é uma pergunta que, inclusive, às vezes, não me deixa dormir (risos). Bom, nesse mês vamos entrar no processo de definição, eu sou o pré-candidato do PT colocado na frente. É inegável que o Lula é importante, colar no Lula é importante. É inegável que eu tenho hoje o melhor recall. Nas pesquisas que tenho visto dos candidatos da Frente sou eu que reúno essa condição, mas também é inegável que todos os outros nomes de profunda expressão. Então nós vamos tratar disso com o sentimento de avaliar quem é que pode aglutinar primeiro a Frente, quem tem a cara dessa polarização nacional.

Décio Lima, fechado com Lula. Foto: Ricardo Stuckert.
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