Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Essa frase define bem o humor do senador Dário Berger durante a entrevista que concedeu ao site hoje cedo. O político que, recentemente, migrou do MDB para o PSB, integra a chamada Frente de Esquerda em Santa Catarina e tem a pretensão de ser o nome do partido na chapa de esquerda aqui no estado, posto que disputa com Décio Lima. Questionado sobre que sentimento que guarda de seu ex-partido, o senador agradeceu às conquistas obtidas enquanto esteve no Manda Brasa, reclamou de um “pequeno grupo” emedebista, disse que não é de esquerda e escolheu um tom moderado para responder às perguntas.
Maga: Senador, como estão as coisas?
Dário: cada dia com a sua agonia. Caminhando pra frente enquanto dá.
Maga: que sentimento ficou da sua saída do MDB?
Dário: a política é feita de desafios e nós estamos vivendo o tempo da antipolítica. A política é a arte do bem comum. É a mais difícil das atividades humanas e pra isso precisa muita coragem e determinação. A coragem é a mãe de todas as virtudes. Sobre o MDB foram 15 anos de vitórias sucessivas, tive uma grande vitória em Florianópolis pelo MDB na época do Luiz Henrique da Silveira, quando fui reeleito prefeito da cidade e tive uma eleição pro Senado Federal cujo mandato está terminando agora. O MDB foi um partido que me deu a mão, me abraçou e eu não posso reclamar, só agradecer. Minhas primeiras palavras são de agradecimento, pelas conquistas, por tudo que construímos. A minha tristeza foi que um pequeno grupo, talvez menos que meia dúzia de pessoas, não entenderam o cenário político e não entenderam que histórico no MDB não é só aquele que nasceu no MDB mas também aquele que ajudou a construir a história. Eu acho que eu ajudei a construir a história como senador, fui presidente da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, a maior e mais importante condição do Congresso Nacional. Tive a oportunidade de, naquela época, trazer mais de 1.2 bilhão pra Santa Catarina. Fui presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado e nessa oportunidade aprovamos o Fundeb em definitivo. O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica é o agente financiador da educação básica no Brasil. Sem a educação básica a gente não é nada. Nunca um catarinense ocupou tantos cargos relevantes num mandato só como eu ocupei. Então fica a minha gratidão e a minha expectativa que a gente pode caminhar juntos mesmo que não na mesma sigla partidária.
Maga: parte da esquerda não considera que o Sr. seja o nome que represente a Frente de Esquerda. Qual a sua percepção sobre isso?
Dário: vou te dizer com sinceridade, esse projeto da frente de esquerda não é pequeno. É um projeto que visa governar o estado de Santa Catarina, que é uma das grandes locomotivas econômicas desse país, que ocupa apenas 1% do território nacional mas que tem a 6ª maior economia. Esse é um estado diversificado então o projeto pra governa-lo não pode ser pequeno. E eu não sou empecilho pra nada, não estou vindo pro projeto pra dividir e sim pra somar. Eu não sou candidato de mim mesmo. Quero ser candidato de um frente ampla, democrática, progressista, que possa fazer com que SC volte a crescer e prosperar e ser reconhecida no cenário nacional. Então se em algum momento eu achar que eu sou um empecilho para a consolidação dessa frente democrática eu abro mão da minha candidatura e serei um soldado pra ser escalado em qual for a melhor posição pra gente formar uma chapa ampla e progressista. Não sou de esquerda, não sou radical. Eu sou um cara da moderação eu sou um homem da conversa. Numa democracia não há outro caminho que não seja através da política e política significa conversa entendimento, dialogo, simplicidade e reconhecimento. A politica é a arte de unir, juntar e crescer. Se a população quiser um governador moderado, com experiência comprovada na iniciativa privada e no legislativo, eu estou pronto. Meu sonho sempre foi ser governador, mas eu ainda não tive essa oportunidade.
“Não sou de esquerda, sou um cara progressista“
Como eu disse a você, não sou de esquerda, mas eu sou um cara progressista. Eu reconheço que o maior problema da nação brasileira hoje são as desigualdades sociais. O aumento da fome, da miséria, isso é muito sério. Hoje cerca de 5 milhões de crianças não se alimentam adequadamente no Brasil. Temos cerca de 600 mil catarinenses vivendo com muita dificuldade, isso é 10% da população catarinense vivendo às margens da pobreza. Esse é o maior problema. Não sou radical, mas tenho sensibilidade social. O político que não tem sensibilidade social não merece prosperar. Num país como o Brasil, com milhões de brasileiro que precisam do governo pra sobreviver então nós não podemos ter um governo liberal só por ser liberal. Nós precisamos estender a mão pra essas pessoas.
Maga: o Sr. tem tido contato com o ex-presidente Lula?
Dário: não tenho tido muito contato não. Nós vamos ter um contato agora na próxima semana com ele, os senadores. Tenho pelo presidente Lula real estima e consideração. Não podemos esquecer que quando ele encerrou seu mandato tinha mais de 80% de aprovação popular e se tinha essa aprovação é porque foi um bom presidente. Na nossa chapa, na nossa composição, nós temos o PDT também, então nós temos dois pré-candidatos à presidência da república, o presidente Lula e o Ciro Gomes. Se somarmos os dois, é a arte da política. Se tudo der certo vamos disputar essa eleição de coração aberto.
Maga: se o Sr. não for o cabeça de chapa da Frente de Esquerda, o sonho de ser governador vai ser esquecido?
Dário: o tempo passou rápido pra mim. Já estou com 65 anos. Pra ser governador ou é agora ou não é nunca mais porque eu também não quero ser governador com os pés arrastando no chão. Eu quero ter entusiasmo, a garra de um vencedor, com vigor e disposição. Eu não sou carreirista. Já fui tudo que eu podia ser, sou muito abençoado. Agradeço a Deus e ao povo catarinense por isso. São seis eleições e seis vitórias sucessivas e vou me oferecer a Santa Catarina como um homem do diálogo, disposto a juntar as pessoas e não dividir.