Única mulher a concorrer como candidata a prefeita em Criciúma em 2020, a advogada e jornalista Julia Zanatta despertou amor e ódio entre os eleitores em sua estreia nas urnas. Fez 6.953 votos, ficando em terceiro lugar numa disputa com veteranos da política. Mas engana-se quem pensa que ela não conhece o meio político – ela já foi assessora parlamentar e exerceu função no Governo do Estado. Agora a criciumense quer uma vaga em Brasília, próxima do presidente Bolsonaro e está focada na construção do seu partido, o PL, aqui em Santa Catarina, sempre ao lado do senador Jorginho Mello, seu ferrenho apoiador. A Júlia Zanatta que me recebeu para a entrevista muito pouco lembra a versão candidata do ano passado, quando fazia questão de não levar desaforo pra casa e nem de ter muita paciência. Na entrevista, a pré-candidata a deputada federal e atualmente coordenadora da Embratur (região sul), falou da sua primeira campanha, disse que se arrepende de ter se preocupado muito com picuinhas e deixou claro que o PL vai ter candidato ao governo do estado.
Leia a seguir:
Maga: qual a principal lição que a campanha de 2020 te proporcionou?
Júlia Zanatta: não se meter em briga desnecessária. Porque se tu ficares chutando todo cachorro que late no caminho, tu não chegas no teu objetivo.
Maga: você tem algum arrependimento daquele período de campanha?
Julia: arrependimento, não. Não fiz nada de errado. Mas fiquei me preocupando muito com as pedras do caminho.
Maga: tipo o que?
Júlia: picuinhas que ficavam criando e eu me apegava aquilo e, às vezes eu não estava tão pronta pro eleitor, focada no meu objetivo. Eu ficava me estressando com coisas desnecessárias.
Maga: naquela época, você recebeu algum apoio inesperado?
Julia: fiquei surpresa de pessoas que diziam que não gostavam do Bolsonaro, mas que diziam que votariam em mim porque eu enfrentava o Clésio (Salvaro – prefeito de Criciúma). Essas coisas me surpreendiam.
Maga: fazer mais votos que alguns nomes experientes na política, naquela eleição, foi uma surpresa?
Julia: eu não me surpreendo muito com as coisas, não crio muita expectativa porque aí não fico frustrada, mas eu esperava até fazer mais votos. Meu sentimento era ficar em segundo lugar porque na rua só se falava de Clésio e Júlia. Mas foi uma campanha boa, um resultado bom, por que o PL não era um partido tradicional em criciúma, que tem uma história, como tem o MDB, por exemplo, apesar de, ao longo dos anos, ter perdido muito apoio. Mas nós elegemos um vereador, número igual o MDB. Tudo isso foi construído sem ter nada pra oferecer pra esses candidatos. A gente montou um time, fez o coeficiente eleitoral pra eleger um vereador, porque teve alguns vereadores eleitos na sobra. Acho que foi um bom resultado. A coligação em si, elegeu três vereadores, mas nós tivemos vários problemas com o PSL durante a campanha. Na verdade, não foi problema comigo. É que o PSL foi construído com promessas que não se cumpriram então teve esse problema interno. Fiquei feliz em ficar na frente de todos os candidatos de esquerda. Declaradamente de esquerda né, porque o Aníbal (candidato Aníbal Dário – MDB), também tem um pezinho no PT. Então pra mim isso foi muito importante. Lembro que na campanha eu encontrei o Chico Balthazar (candidato do PT) e ele me falou assim: “Júlia, o Clésio me encontrou num lugar e me disse pra parar de bater nele porque queria que eu ficasse na tua frente, queria que tu ficasses em último lugar” (risos).
Muita gente achou que eu ficaria em último lugar, as pesquisas me colocavam atrás do (Rodrigo) Minotto, atrás do Chico também. Pesquisas influenciam e isso também fez desacreditar a minha campanha. E eu fiquei na frente de um deputado estadual, que tinha estrutura, tem gabinete, tem uma história. Fiquei na frente do PT. Fiquei na frente de um cara que já foi comandante do 6º batalhão, então pra mim isso foi muito significativo.
“essa guria nunca mais vai ter coragem de botar a cara na rua”
Eu tinha a sensação que o desejo das pessoas na minha campanha era me ridicularizar e me humilhar. Dizer assim: “essa guria nunca mais vai ter coragem de botar a cara na rua”. Mas estão muito enganados quando tentaram fazer isso comigo porque me dá vontade. E isso não estou nem falando de grupos de esquerda específicos. Mas de pessoas que estão acostumadas a ser candidatas, acostumadas a dominar o cenário político de Criciúma e quiseram fazer isso comigo. Mas foi uma estratégia errada.
Maga: você mencionou que as pessoas gostariam de te ridicularizar e te ver fora da política. Teve algum momento que você chegou a considerar essa possibilidade?
Julia: não pensei nunca em parar. Eu não ligo muito pra críticas, não me abalo muito. Claro que tem coisas que vão além, ofendem a família. As pessoas que me criticam, muitas de esquerda, que não concordam com o que eu penso. E outras porque não tiveram coragem de conquistar o espaço político que eu conquistei.
Maga: lembro que Jorginho Mello foi a público garantir sua candidatura a prefeita pois havia um boato de que você desistiria. Em algum momento se cogitou isso?
Julia: todo dia era uma notícia que eu não ia mais ser candidata. Não passou isso pela minha cabeça, até porque já tinha dado a palavra pra todo mundo. E assim, vou te falar, se alguém queria ser candidato no meu lugar, deveria ter colocado o nome e não ficado fazendo joguinho de bastidor. Mas ficava jogando via blogueiros, pra tentar me enfraquecer. Eu tinha a palavra do Jorginho Mello e eu estava tranquila, mas, claro, isso desgasta né.
Maga: você fica no PL mesmo depois que o presidente se filiar a outro partido?
Julia: eu estou trabalhando pra ficar no PL porque eu tive uma conversa em abril, com Jair Bolsonaro, e ele me falou pra ir pro partido dele que, na época, era o Patriotas. Só que as coisas não deram certo. E agora nas últimas vezes que eu fui a Brasília, eu senti que ninguém nem estava falando sobre partido. Eu não queria ficar mudando de partido. E tenho uma boa relação com Jorginho, com a equipe dele, e o PL vai ter candidato a governador e isso é importante para as candidaturas proporcionais também. Eu vejo hoje o Jorginho como um nome consolidado e o PL sem nenhum deputado federal por Santa Catarina, só um suplente. Eu estou trabalhando para ficar no PL inclusive, na quinta (30) eu fiz a sinalização que posso sair da presidência do partido para deixar o Ademirzinho na função (Ademir Honorato, ex-vereador em Criciúma). Ele já está com o Márcio Búrigo e vai me apoiar também.
“a política é mais difícil para as mulheres”
Maga: com a sua experiência, você considera que a política é mais difícil para as mulheres?
Julia: é mais difícil. Por exemplo: eu fui candidata com a minha filha no colo. Ela nem tinha um aninho ainda, eu ainda amamentava. Tinha os momentos de tensão. Teve dias essa semana que eu saí às 7h da manhã e voltei meia-noite. Mas isso não só na política, mulheres que trabalham fora também passam por isso. Não posso reclamar porque foi uma escolha minha, mas a política é mais difícil para as mulheres porque somos mais sensíveis e, às vezes, tem que ter um pouco de frieza e eu sou bem coração, emoção. Não estou dizendo que isso é uma qualidade não. Mas é mais difícil sim.
Maga: em 2022, você será candidata à deputada federal ou estadual? Mas não vale dizer que vai pra onde o partido decidir. Quero saber a tua vontade.
Júlia: a minha vontade é federal. O que me fez entrar na política foi o Jair Bolsonaro, foi a eleição dele. Então onde que eu posso ajudar o JB? Onde que eu posso ajudar as nossas pautas? Na câmara federal. E ele tem falado que tem vontade de aumentar a bancada porque a gente sabe que não se governa sozinho. Então a minha vontade é ir a federal.
Maga: se isso não se confirmar, cogitas ir a estadual?
Julia: outro dia o Jorginho deu uma declaração de que eu poderia ir a estadual ou federal, a depender da minha vontade e do cenário político. É que estavam falando que o Márcio Búrigo iria sair do partido, mas ele falou pra mim que não vai sair então talvez o Jorginho falou isso por pensar “ah, caso saia, Júlia pode concorrer aqui”. Tem outros deputados federais agora querendo vir pro PL, que choca comigo (na briga por votos) na região, mas hoje eu estou trabalhando como pré-candidata a deputada federal. A minha montagem é essa. Tanto que tem mais pessoas me buscando pra fazer dobradinha (na campanha) pessoas lá de Floripa. Quando chegar lá na frente, como é que eu vou falar que não vou mais?! Eu acho, inclusive, que o partido tem que deixar isso bem claro, né?! Tem deputado querendo vir, mas vai ter que esperar a janela da fusão. Ontem o Márcio esteve aqui inclusive, estamos estreitando as relações e pensando no futuro. Vamos pensar no futuro, na eleição de 2022, já pensando nos nomes que depois vão disputar a eleição de 2024, das eleições municipais. Eu vejo que o pessoal que se elegeu pela onda Bolsonaro tem essa dificuldade de montar grupo, de pensar no futuro. Eduardo Bolsonaro sempre me diz que é muito importante que eu já tenha uma experiencia política antes. já fui assessora, já trabalhei no governo do estado. Acho importante todas essas experiêancias que eu passei. Então é importante montar grupo e ter parcerias solidas. É isso que eu busco.
“diferente de outras pessoas que ficam toda hora tentando barrar a minha candidatura, seja aqui ou lá em Brasília, que ficam toda hora se preocupando com o que os outros tão fazendo, eu não estou preocupada com o que os outros estão fazendo”
Maga: recentemente o deputado federal Daniel Freitas publicou uma foto no gabinete do senador Jorginho Mello e Daniel não deve permanecer em seu partido, o PSL, então me pareceu que o PL pudesse ser uma alternativa a ele. Poucos dias depois, percebi uma movimentação de aproximação sua com o pré-candidato a deputado estadual, Marcio Búrigo. Essa articulação teve a intenção de barrar uma possível ida do deputado federal Daniel Freitas para o seu partido, o PL, já que vocês podem disputar eleitores com perfil parecido?
Júlia: a gente vai disputar mesmo não estando no mesmo partido. Não sou eu que fecho a porta do PL. Quem fecha porta no PL é Jorginho Mello, não vou ter essa audácia de falar isso. Eu sempre falei que o PL era um partido bom porque tem que ter comando e hoje quem comanda o PL é o Jorginho. O Daniel é um deputado federal, ele tem mandato. Não posso falar por ele nem pelo Jorginho. Eu e o Marcio nos aproximamos porque a gente quer trabalhar, tocar o partido aqui no sul, pra frente, não podemos ficar esperando possibilidades. O barco tem que seguir. Quem vai fechar ou não vai fechar a porta pro Daniel é o Jorginho Mello. Eu, diferente de outras pessoas que ficam toda hora tentando barrar a minha candidatura, seja aqui ou lá em Brasília, que ficam toda hora se preocupando com o que os outros tão fazendo, eu não estou preocupada com o que os outros estão fazendo. Eu estou fazendo o meu trabalho. Agora, quem tem um mandato, quem se elegeu bem e está preocupado comigo, é porque talvez está achando que o trabalho que apresentou não foi satisfatório. Tem gente que tem mandato de deputado federal e não está preocupado comigo porque talvez tenha mais segurança na reeleição.
Maga: o que você acha que será o principal desafio para uma candidatura bolsonarista em 2022, já que em 2020, tiveram certa facilidade para se eleger?
Julia: outro dia até ouvi o Jair falando sobre isso, que não vai mais ter aquela onda. O que aconteceu em 2018? As pessoas não conheciam os candidatos do 17. (sigla do PSL, partido de JB à época). O PSL se criou muito rápido e veio qualquer coisa né?! Veio Frottas, Joices, Daiane Pimentel, enfim. Não que hoje vai se criar um partido e vai vir só candidato top. Não. Sempre vem uma rebarba aí ruim né. Só que dessa vez as pessoas vão poder analisar. “Esse aqui prestou um bom trabalho, teve a chance, trabalhou pelas pautas que se propôs na campanha, é realmente aliado do Bolsonaro”. Porque as pessoas hoje estão expostas na rede social e tem muita gente que acompanha o trabalho dos políticos. Então acho que as pessoas vão olhar isso. Eu fico pensando se eu teria um prejuízo eleitoral em não estar no mesmo partido (mesmo número) do presidente, inclusive conversei isso com Jorginho Mello. Mas eu acho que não. O PL vai ter candidato a governador e isso também vai ajudar na nominata de deputados. Acho que o eleitor vai olhar o perfil das pessoas que estão expostas. As figuras já são conhecidas do povo.
Maga: caso não eleja no que vem, pretende ser candidata a prefeita novamente em criciúma em 2024?
Julia: na eleição de 2020 ninguém queria ser candidato porque tinha o Clésio Salvaro e todo mundo sabia que ele era forte e ninguém queria ir contra ele. Ele manda na cidade. Ninguém queria enfrentar ele e eu fui. Todo mundo perguntava porque eu não fui a vereadora. Olha, primeiro porque já tinha meu sogro que era candidato (Júlio Colombo), segundo que eu queria ir à prefeita. Foi importante pro PL ter candidata. Depois do Clésio era o que mais tinha tempo de TV porque eu consegui fazer uma coligação com PSL, inclusive o Dr. Alisson foi um grande parceiro. Em 2024 todo mundo vai querer ser candidato porque o Clésio não vai estar mais na disputa municipal. Se eu ganhar a eleição eu não vou concorrer em 24, mas se não ganhar, vou pensar, discutir, conversar, porque o jogo vai estar bem aberto.
Maga: Desde que você assumiu o posto na secretaria de turismo, o que que já deu tempo de fazer?
Júlia: a Embratur é uma agência internacional do turismo. Até dia 30 de junho a gente estava fazendo nacional. A atividade fim da pasta é a promoção e marketing. Nesse período de pandemia, foram feitas campanhas publicitárias. Teve uma que tinha como slogan “Ser brasileiro é estar sempre perto de destinos turísticos incríveis” e aí incluímos pontos em Santa Catarina. Foi amplamente divulgado nos veículos de comunição. Em SC, firmamos parceria entre Embratur e a The Ocean Race, a maior regata do mundo, que passa por Itajaí. A Ocean Race tem doze paradas no exterior então vamos divulgar o Brasil no exterior também. Agora Florianópolis foi escolhida como destino turístico inteligente, estive lá essa semana acompanhando também porque acabo sendo um braço do Ministério do Turismo aqui também. Entre as dez cidades escolhidas no Brasil, aqui no Sul, onde eu coordeno, foi Floripa e Curitiba. Eu consigo ajudar a promover destinos turísticos consolidados, aqueles que tenham toda a estrutura para receber o turista. Quem implementa as políticas públicas para o turismo é o Ministério do Turismo, a Embratur é a promoção e marketing dos destinos turísticos, são coisas separadas. Aqui da nossa região o que está despontando no turismo são os canyons. Aqui em Criciúma, temos a mina de visitação. Minha função é a articulação política entre os órgãos municipais e estaduais com a Embratur.
Maga: que avaliação você faz do governo Moisés?
Julia: eu não acompanho de perto, mas tecnicamente falando, me parece que ele não fez um mau governo. Santa Catarina é um estado privilegiado, se não fizer nada de errado, só não atrapalhar, SC anda sozinho. Acho que o governo Moisés tem um apetite arrecadatório muito agressivo. O caixa tá cheio, né?! Acho que politicamente ele foi muito infeliz. Como eu te falei, eu nunca falei com ele. Me parece que ele não é humilde, no começo ele achou que ia governar Santa Catarina sem conversar com as pessoas, inclusive aqueles que apoiaram ele. Eu acho que ele foi arrogante ao se afastar do presidente Jair Bolsonaro, dando declarações contra os filhos, meu amigo, Eduardo Bolsonaro, falando que não queria nem saber dos filhos do presidente e a recíproca é verdadeira eu acho, porque ninguém deles lá quer saber dele também, na minha percepção. Teve a questão dos respiradores também que acho que nunca aconteceu isso no nosso estado.
Maga: você se vacinou ou irá se vacinar?
Julia: não, não fiz.
Maga: vai fazer?
Julia: só se eu quiser, se eu mudar de ideia, mas enquanto tiver gente querendo mandar em mim, não vou fazer. Eu não fico influenciando ninguém. Meu pai tomou, minha mãe tomou, eu nem dei opinião. Eu não opino na vida dos outros e também não gosto que opinem na minha. Eu não tenho condições de fazer nenhum comentário técnico sobre a vacina. Esses dias li um comentário de uma mulher que foi muito feliz. Ela disse que tá uma forçação de barra tão grande que está afastando as pessoas (da vacina). Deixa acontecer naturalmente. Sou contra o passaporte sanitário também.
Maga: tem algum assunto que você gostaria de ter falado nessa entrevista e eu não perguntei?
Julia: não.
